O Presidente da Faculdade de Motricidade Humana, Luís Bettencourt Sardinha, explica as novas etapas de desenvolvimento da FMH e discute a importância do exercício e do desporto na saúde e na sociedade.
O Presidente da Faculdade de Motricidade Humana (FMH), Luís Bettencourt Sardinha, conversou com o Oeiras Valley sobre os projetos a serem desenvolvidos pela FMH, dos quais se destaca a construção do Cluster Ativo – o novo centro científico e tecnológico da faculdade.
Acompanhe esta entrevista e conheça a faculdade que celebra 81 anos de história e que procura continuar a trabalhar para estar cada vez mais próxima da comunidade e dos diversos tipos de praticantes de exercício, do lazer ao alto rendimento, com especial atenção para os oeirenses e para o Centro Desportivo Nacional do Jamor.
Encontramo-nos na Faculdade de Motricidade Humana, uma faculdade que já teve vários nomes ao longo do tempo, associados às diferentes “fases da vida” da instituição.
Inicia-se agora uma nova fase com o anúncio da construção do Cluster Ativo da Faculdade?
A FMH tem 81 anos de história. Uma história de sucesso. Primeiro como Instituto Nacional de Educação Física, depois Instituto Superior de Educação Física e agora Faculdade de Motricidade Humana. Tem sido um alfobre de líderes influentes na sociedade, inicialmente centrada na Educação Física e no Desporto, mas que cedo soube adaptar-se às necessidades da sociedade. Rapidamente evoluiu para outras áreas, como a Dança, a Reabilitação Psicomotora, a Gestão do Desporto, a Ergonomia e o Exercício e Saúde.
“Esta nova fase vai possibilitar a construção de uma nova infraestrutura tecnológica, mas, essencialmente, dará resposta aos desafios da modernidade.”
Com a construção do Cluster Científico e Tecnológico de Atividade Física, Desporto e Saúde (Cluster Ativo), e com esta ligação ao Oeiras Valley, inicia-se uma alteração paradigmática no desenvolvimento desta escola.
Esta nova fase vai possibilitar a construção de uma nova infraestrutura tecnológica, mas, essencialmente, dará resposta aos desafios da modernidade, com equipamentos atualizados, que serão muito importantes para os docentes, para os alunos, para os nove laboratórios e para os quatro centros de estudos aqui residentes.
Será um espaço de interação entre o conhecimento e a inovação, a cultura e o lazer, dinamizador do empreendedorismo, do desporto, da saúde e do desenvolvimento económico e social. Uma nova fase que respeita a história, mas que enfrenta e prepara a escola para os desafios emergentes de competitividade, com a responsabilidade de dar resposta às profissões de hoje e de antecipar e influenciar as do futuro.
“Hoje, mais do que nunca, é necessário que o conhecimento produzido esteja próximo das pessoas. Um conhecimento e uma ciência para todos.”
O nome da FMH aparece muitas vezes associado ao mundo do desporto e do futebol.
Sente que, com o passar dos anos, houve uma mudança de perceção e as outras vertentes educativas e de investigação ganharam o mesmo relevo?
Hoje, mais do que nunca, é necessário que o conhecimento produzido esteja próximo das pessoas. Um conhecimento e uma ciência para todos, que têm a ver com uma dimensão fundamental da universidade, além do ensino e da investigação, que são os programas de extensão à comunidade.
É uma alteração da própria cultura da investigação, que se está a fazer progressivamente, para que os problemas não sejam apenas formulados em laboratórios, mas para que venham ao encontro das necessidades da sociedade e para resolver os seus problemas.
“A FMH tem uma investigação muito considerável e não é por acaso que está situada entre as melhores 50 faculdades europeias e entre as melhores 100 faculdades do mundo.”
A FMH tem uma investigação muito considerável e não é por acaso que está situada entre as melhores 50 faculdades europeias e entre as melhores 100 faculdades do mundo. Este número representa um trabalho muito dedicado dos professores, dos investigadores e dos estudantes.
A FMH é frequentada por cerca de 2000 estudantes, de licenciaturas, mestrados, pós-graduações e doutoramentos. É uma oferta formativa diversa de acordo com a sua missão, quando se reconhece o desenvolvimento humano sustentável através da motricidade.
Importa referir ainda que muito recentemente procedeu-se a uma profunda reforma de todos os cursos conferentes a grau académico.
Quais são as grandes vantagens competitivas da FMH e o que é que a diferencia de outras instituições a trabalhar nas mesmas áreas científicas e educativas?
Todo o processo de formação e de investigação iniciou-se no âmbito da educação e do desporto e, bem cedo, abriu-se a outras áreas do conhecimento.
Há características determinantes na diferenciação nacional. Os estudantes que iniciam a sua formação no primeiro ciclo podem progredir na sua área de formação inicial para mestrado e aqueles que querem continuar uma formação mais especializada, podem continuar com o doutoramento. Existe uma oferta formativa bem estruturada com percursos específicos e alternativos que se iniciam na licenciatura, terminam no doutoramento e prolonga-se com programas pós-doutorais.
“A FMH quer continuar a valorizar este centro desportivo, conjuntamente com o Governo, com o Instituto Português da Juventude e com o Município de Oeiras.”
Outro domínio importante são as infraestruturas laboratoriais. Existem infraestruturas laboratoriais de grande intensidade tecnológica com métodos e instrumentos, nalguns casos, do mais avançado que existe na comunidade científica internacional.
Estas características, conjugadas com um corpo docente experiente e de excelência, com uma vocação dirigida para o desenvolvimento do conhecimento e para a investigação, estabelecem uma boa prática pedagógica e definem a diferenciação das diferentes áreas de missão da faculdade.
E quanto à localização da FMH no Município de Oeiras?
Sempre foi uma vantagem e agora é uma vantagem ainda maior. O conceito de Oeiras Valley atingiu uma dimensão programática e existem diversas ações que contribuem para esta vontade de desenvolver um ecossistema de Investigação, de Inovação e de Tecnologia, para o qual a faculdade está muito empenhada em contribuir.
Complementarmente, a faculdade está situada no Centro Desportivo Nacional do Jamor, um espaço único em Portugal. A FMH quer ter uma presença global com as suas especialidades, mas, ao mesmo tempo, quer continuar a valorizar este centro desportivo, conjuntamente com o Governo, com o Instituto Português da Juventude e com o Município de Oeiras.
“O novo Cluster estará muito próximo da formação desportiva e do treino de alto rendimento. A sua dimensão tecnológica irá resolver uma falha no sistema desportivo português.”
Queremos trazer para aqui mais programas para as pessoas. Para aquelas que mais precisam da ajuda profilática do exercício físico. Pessoas com diabetes, doença oncológica, doenças crónicas não transmissíveis, doenças cardiovasculares e até alguns tipos de doenças neurológicas. Cumprimos uma importante missão da universidade, disponibilizando às pessoas o conhecimento e a inovação, ao mesmo tempo que proporcionamos experiência aos estudantes que integram estes programas, para que possam ser profissionais mais seguros, competentes e influentes.
O novo Cluster estará muito próximo da formação desportiva e do treino de alto rendimento. A sua dimensão tecnológica irá resolver uma falha no sistema desportivo português com uma unidade em que as dimensões tecnológicas e metodológicas coexistem. Serão disponibilizados procedimentos e atividades que, de forma prática, possam contribuir para a qualidade da avaliação e do processo de treino dos atletas.
Será uma alteração paradigmática da FMH junto das organizações desportivas, dos atletas e dos treinadores. Terão ao seu dispor recursos humanos e tecnológicos para simular as mais diversas situações de treino, como por exemplo o treino em altitude com diversas condições climatéricas de temperatura e humidade. Uma diversidade de dimensões psicológicas, nutricionais, fisiológicas, neuromusculares e biomecânicas estarão disponíveis de forma integrada.
“Esta ligação programática a Oeiras tem uma vantagem única. Seja pelo contributo do Município de Oeiras para a construção e para o desenvolvimento deste Cluster, seja pela aposta na inovação e no desenvolvimento tecnológico.”
A nossa expectativa é que possamos colaborar com praticantes de lazer, com pessoas que buscam o exercício para otimizar a sua saúde, com pessoas que procuram formação desportiva e com atletas de alto rendimento. Esta participação mais ativa será também relevante para os estudantes e para as suas experiências, que podem ser projetadas para o mercado de trabalho.
Esta ligação programática a Oeiras tem uma vantagem única. Seja pelo contributo do Município de Oeiras para a construção e para o desenvolvimento deste Cluster, seja pela aposta na inovação e no desenvolvimento tecnológico, com parcerias que serão efetuadas aqui com entidades de investigação e empresas do concelho de Oeiras.
Quão importante é estar neste espaço verde extenso que nos rodeia para os alunos e para o desenvolvimento do vosso trabalho?
Este é um espaço icónico. Sempre que antigos estudantes vêm aqui à nossa escola têm um sentimento de pertença muito grande. A FMH tem uma arquitetura muito marcante e está rodeada por cerca de 220 hectares de infraestruturas desportivas e espaços verdes.
“Estes espaços verdes que aqui existem têm a ver com o futuro. Um futuro para o qual queremos contribuir.”
Ainda este ano, a Faculdade de Motricidade Humana iniciou uma análise estratégica com o Instituto Português da Juventude e Desporto e o Município de Oeiras para se otimizar a gestão operacional, organizar a dimensão programática e modernizar as infraestruturas deste centro desportivo.
Estes espaços verdes que aqui existem têm a ver com o futuro. Um futuro para o qual queremos contribuir. Respeitar a visão de quem criou e impulsionou este parque desportivo requer novas soluções para disponibilizar melhores e mais modernos serviços para as pessoas.
As diferentes áreas de missão destas três entidades valorizam tudo o que possa ser concebido e concretizado para a coexistência de gerações e de atividades diversas com caráter educativo, recreativo, de lazer e de rendimento desportivo.
O ordenamento sustentável desta diversidade é exigente, mas o aumento da procura qualitativa destas atividades e também a bem-vinda maior exigência perante a preservação da biodiversidade e ordenamento do parque requerem este esforço colaborativo, sem o qual não será possível dar resposta às necessidades emergentes, à modernidade e à inovação.
É uma realidade que a pandemia nos veio alertar novamente para a importância da ciência.
Sente que o mesmo aconteceu com o desporto e com a relevância de ter uma boa saúde física?
De uma forma muito simples, eu diria que os diferentes confinamentos fizeram com que as pessoas realmente percebessem que têm um corpo que precisa de se movimentar.
Infelizmente, no âmbito do desporto, a pandemia teve influências muito negativas, porque a prática desportiva de formação reduziu, o que teve impacto na taxa de empregabilidade.
“O chamado modelo de crença na saúde não resolve as tomadas de decisão das pessoas. Hoje o que é determinante é a organização do território. É haver disponibilidade para a ação.”
Eu deixo aqui a mensagem para que haja iniciativas para atenuar este processo, nomeadamente na ajuda à formação, já que terá implicações no futuro do desporto de alto rendimento, o qual muito dependerá, daqui a 20 ou 30 anos, da qualidade do trabalho de formação que hoje se fizer.
Portugal tem tentado aliviar esta situação, mas são necessárias medidas mais importantes para que, agora, e esperando tempos novos, haja um processo perseverante e planeado a longo prazo no desporto.
Sente que a visão sobre o exercício está alinhada com os avanços no conhecimento sobre o mesmo ou que, por vezes, andam desligados um do outro?
Durante algum tempo houve o entendimento que o conhecimento determina os comportamentos. No entanto, nem sempre é assim. O chamado modelo de crença na saúde não resolve as tomadas de decisão das pessoas.
Neste momento, atravessamos a era ecológica, a era do ordenamento do território. É preciso ter mais espaços, seguros e atraentes, para fazer atividade física. Veja-se o passeio marítimo em Oeiras, que durante o dia está sempre cheio e no fim de semana tem centenas de pessoas a caminhar e a correr. Onde é que estavam essas pessoas? Se calhar estavam em casa ou no café…
Hoje o que é determinante é a organização do território. É haver disponibilidade para a ação. Naturalmente que o conhecimento científico sobre a atividade física e sobre a saúde ajuda, não há dúvida, mas se não houver ordenamento de território, as pessoas acabam por não fazer atividade física.
Quais são os próximos desafios para a FMH se manter jovem e com perspetivas de uma longa vida pela frente?
As boas práticas são facilitadas pela qualidade das infraestruturas. Está em curso um processo profundo de renovação e modernização dos espaços letivos existentes. Adicionalmente, observar-se-á a construção de uma nova rede laboratorial no âmbito do Cluster Ativo. Este programa dará resposta à necessidade de se qualificar as infraestruturas existentes e de se projetar novas soluções para uma escola moderna que se projete com confiança para o futuro.
“Importa também continuar a valorizar a investigação e a produção científica, envolvendo o desenvolvimento de novos produtos e serviços para a comunidade.”
É necessário continuar a aperfeiçoar a qualidade de ensino e a aproximarmo-nos, de forma mais vincada, às profissões nas nossas áreas de missão. É a qualidade de ensino que viabiliza futuros profissionais mais influentes nas diversas áreas de ação profissional e que atrai reconhecimento à escola.
Importa também continuar a valorizar a investigação e a produção científica, envolvendo o desenvolvimento de novos produtos e serviços para a comunidade. A preparação e o treino para a inovação e para o empreendedorismo são desafios cruciais que têm de ser cultivados.
A produção de conhecimento reconhecido deverá ser a resposta natural ao conhecimento produzido por outros. Assim decorrerá o desenvolvimento pessoal, das instituições e das sociedades.
Enfatizo, novamente, a necessidade de reforçar o nosso contributo aos sistemas educativo e desportivo. A formação de professores de Educação Física e de Treinadores deve ser mais operacional e integrada nas carências da qualificação e da inovação determinadas pelas necessidades dos respetivos setores. Esta é uma orientação estratégica explícita.
Por fim, as ações programáticas devem também resultar do contributo cada vez mais participativo das colaborações a serem estabelecidas com entidades externas à faculdade. Só assim é que se pode valorizar a diversidade de conhecimentos e competências, à mercê de uma sociedade com necessidades cada vez mais específicas.