Desenvolvido pelo Instituto Gulbenkian de Ciência, em parceria com a Merck Family Foundation e a Câmara Municipal de Oeiras, o Lab in a Suitcase é um kit experimental portátil, de baixo custo e de fácil manutenção. Hugulay Maia foi um dos investigadores que fez parte do projeto.
Ao aperceber-se que o preço dos equipamentos e da sua manutenção era um dos motivos que condicionava a investigação nos países em desenvolvimento, os investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência começaram à procura de uma solução. Criaram uma mala portátil com itens de baixo custo e que permite realizar experiências.
O professor e investigador principal na Universidade de São Tomé e Príncipe Hugulay Albuquerque Maia foi um dos investigadores que fez parte desse projeto. Biólogo, santomense e antigo estudante do Instituto Gulbenkian de Ciência do Programa de Pós-Graduação em Ciência para o Densenvolvimento, Hugulay Maia considera que a comunidade escolar de Oeiras pode beneficiar deste projeto, realizando trabalhos com este kit.
Conheça melhor o Lab in a Suitcase através das palavras de Hugulay Maia, o “Rosto da Ciência” que é parceiro deste projeto.
O Lab in a Suitcase é um kit experimental portátil, de baixo custo e de fácil manutenção. O que é que esta mala inclui e para que serve?
A versão final da mala inclui, um Bento Lab ou kit de genotipagem (que inclui uma mini-centrífuga, uma máquina de PCR (termociclador) e um sistema de eletroforese em gel de agarose), uma incubadora criada de raiz, um densitómetro e respetiva aplicação de medição de densidade ótica, uma lupa e um kit de pipetas. A mala pode ser útil para diversos trabalhos, quer na investigação quer no ensino. No fundo, serve para a democratização da ciência.
Que tipo de experiências é que este kit permite realizar e a quem se destina principalmente esta mala?
É possível realizar diversas experiências. Por exemplo, é possível fazer extração de material genético, desde que se tenha reagentes para tal. Pode-se usar a máquina de PCR para detetar se estamos perante espécies gémeas (espécies muito parecidas em sua morfologia). Pode-se medir a qualidade da água ou mesmo medir concentrações proteicas. Pode-se estudar organismos minúsculos como plâncton ou aspectos morfológicos de animais como insetos e plantas. Este são, aliás, exemplos de experiências que tenho realizado com equipamentos que estão na mala.
Como é que surgiu a ideia de criar uma mala que permitisse fazer experiências e como é que foi o processo de desenvolvimento deste kit?
A ideia surgiu depois de um fórum levado a cabo por uma antiga investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência, a Dra. Joana Sá, onde foram analisados alguns factores que condicionavam a investigação em países em via de desenvolvimento, particularmente os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Constatou-se que um dos motivos era os equipamentos que, além de serem caros, exigiam manutenções complexas. Neste sentido, os investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência começaram a projetar ideias que pudessem ajudar a ultrapassar esta barreira e assim conseguiram projetar uma mala portátil com itens de baixo custo e de fácil manutenção.
De que forma é que a população de Oeiras pode beneficiar do projeto Lab in a Suitcase?
Penso que a população de Oeiras pode beneficiar deste projeto de diversas formas. Desde logo, os professores de ensino secundário podem usar a mala para realizar diversos trabalhos com os alunos de modo a que possam despertar a sua curiosidade científica.
Que balanço faz até agora da sua experiência neste projeto e como perspetiva o futuro do trabalho desenvolvido?
Faço um balanço positivo desse projeto. Por exemplo, graças a este projeto consegui cumprir uma das promessas que fiz aos meus alunos quando comecei a dar aulas de biologia, na Universidade de São Tomé e Príncipe. Na altura, nunca se tinha ensinado fazer PCR, uma técnica básica de biologia molecular desenvolvida nos anos 1980 nesta instituição de ensino superior. Graças a este projeto, hoje, cerca de 40% dos estudantes da licenciatura em Biologia sabem aplicar essa técnica.
Para o futuro, pretendo ampliar essa percentagem para 100%. Além disso, criar uma sinergia com outros centros de investigação do país para o uso da mala.