A liberdade e a independência para se fazer ciência e o diálogo entre os vários grupos de investigação são alguns dos fatores que contribuem para o sucesso do Instituto Gulbenkian da Ciência e ajudam a explicar o facto de estar bem classificado nas avaliações que são realizadas. Os resultados das últimas avaliações feitas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia comprovam a excelência da ciência que se produz em Oeiras: em 2014 o IGC ficou entre as 11 instituições a quem foi atribuída a classificação de excelente e em 2019 manteve a mesma classificação. Este resultado permite não só destacar as instituições de I&D, mas também definir a atribuição de financiamento.
O IGC caracteriza-se por uma organização completamente horizontal, com poucas hierarquias e sem divisões. “Gostamos muito de promover o diálogo entre as pessoas de várias áreas diferentes. Daí o facto de não termos unidades ou departamentos. Temos cerca de 30 grupos de investigação, que falam uns com os outros. Depois temos é várias infraestruturas – desde microscópios até máquinas que leem o nosso genoma – para dar apoio ao trabalho destes grupos”, explica a Diretora do IGC.
É deste diálogo entre os vários grupos que surgem descobertas relevantes: “Sabemos que os micróbios no intestino têm um papel importantíssimo. Há até quem diga que podem determinar a nossa longevidade e o nosso comportamento. Temos uma investigadora que trabalha com sistema imune, outra que trabalha com micróbios e outra que trabalha na área da evolução. E, ao falarem as três juntas, começaram a perceber como é que estes micróbios evoluem dentro do nosso intestino, como é que o sistema imune afeta esse processo e daí chegaram à resistência aos antibióticos”, explica a Diretora do IGC.
Levar a Ciência e o Conhecimento a todas as pessoas
Tornar o conhecimento e a ciência acessíveis a todos é, para a Diretora do IGC, um passo fundamental. “A ciência e a tecnologia estão hoje em todo o lado. Por exemplo, quando decidimos se vamos ou não vacinar as nossas crianças ou se devemos comer ou não certos alimentos que estão geneticamente modificados. Todas estas decisões têm a ver com ciência e tecnologia. É muito importante informar os cidadãos e é fundamental que os cidadãos possam participar na ciência. E, neste campo, a Câmara Municipal de Oeiras tem estado a financiar projetos muito interessantes na área da educação da ciência e da ciência cidadã”.
“Desde a altura em que deixei Portugal, em 1997, para ir estudar para fora, houve uma grande alteração da ciência em Portugal. Agora temos muito mais massa crítica em diversas áreas e é possível fazer excelente investigação em Portugal”, refere Mónica Bettencourt Dias.
Mas essa é apenas uma das frentes que quem faz todos os dias ciência em Portugal sente que deve ser trabalhada. É preciso ir mais longe, através da facilitação de instrumentos para se fazer ciência e também para atrair talento. É ainda necessária uma maior colaboração entre as entidades que fazem ciência e o mundo empresarial.
Neste sentido, o IGC está a desenvolver o centro internacional colaborativo em parceira com a Câmara Municipal de Oeiras. O objetivo é trazer mais investigadores a Portugal, através de um programa de licenças sabáticas, conferências, projetos colaborativos e cursos e, assim, dar mais visibilidade à ciência que se faz em Oeiras, mas também em Portugal. Enquadrado neste objetivo o IGC, em parceria com a Câmara de Oeiras e a Merck, lançou as Bolsas António Coutinho uma iniciativa dirigida a estudantes, professores e jovens investigadores de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa que pretende promover a cooperação, a capacitação e o desenvolvimento de investigação científica. As primeiras Bolsas foram entregues em 2019 e em 2020 serão atribuídas mais três.
Apesar do trabalho que ainda deve ser feito para projetar a ciência que se faz no País, Mónica Bettencourt Dias não tem dúvidas da excelência da ciência em Portugal. “Desde a altura em que deixei Portugal, em 1997, para ir estudar para fora, houve uma grande alteração da ciência em Portugal. Agora temos muito mais massa crítica em diversas áreas e é possível fazer excelente investigação em Portugal”, conclui