Com perto de 60 anos de existência, o Instituto Gulbenkian da Ciência (IGC) é uma das maiores referências nacionais no campo da ciência e da investigação. Instalado em Oeiras, o IGC acolhe investigadores de 41 nacionalidades diferentes. O Oeiras Valley foi conhecê-lo por dentro.
12 de julho de 2019. Milhares de pessoas rumaram ao passeio marítimo de Algés para assistir à atuação dos Vampire Weekend, uma das bandas mais aguardadas daquela edição do festival NOS Alive. Mas enquanto o grupo norte-americano não atuava, os visitantes passeavam pelos inúmeros stands do recinto. Um deles – o stand do Instituto Gulbenkian da Ciência – cativou um número particularmente elevado de visitas. Com uma singularidade: lá dentro não se ofereciam bebidas, mas sim conhecimento. Neste stand, os visitantes podiam participar em ações de speed-dating com cientistas, colocando questões sobre temas científicos; participar em jogos sobre a resistência aos antibióticos, ou mesmo transformar os seus telemóveis num microscópio. O objetivo desta iniciativa? Levar a ciência e o conhecimento ao público em geral e mostrar que todos os lugares são bons para se fazer ciência.
Esta presença do Instituto Gulbenkian da Ciência (IGC) no Nos Alive é o resultado de uma parceria entre o instituto e a Everything is New, promotora do NOS Alive, desde o primeiro festival, em 2007, e é um reflexo da missão deste instituto que no próximo ano comemorará 60 anos de existência.
Instalado no coração de Oeiras, junto ao Palácio do Marquês, o IGC acolhe cerca de 400 pessoas, entre investigadores e estudantes, de 41 nacionalidades diferentes. Aqui faz-se ciência todos os dias. E, com grande frequência, são feitas descobertas relevantes na área das ciências da vida que poderão impactar o futuro da saúde. Só em 2018, os investigadores do IGC publicaram mais de 130 artigos em publicações científicas internacionais.
“Já formámos mais de 600 estudantes de doutoramento. Temos um programa de doutoramento que é muito inovador, é reconhecido nacional e internacionalmente e tem já 26 anos. Daqui têm saído muitas pessoas para todo o país e para todo o mundo”, explica Mónica Bettencourt Dias, cientista, Diretora do IGC e CO-Presidente da EU-Life.
“A nossa missão é que as pessoas cresçam aqui e depois possam ir para outros locais desenvolverem a ciência que aqui fizeram e aprenderam”, acrescenta. Por isso mesmo, não é de admirar que muitos dos atuais responsáveis de outros institutos ligados à ciência, como é o caso do Instituto de Medicina Molecular ou do Centro de Doenças Crónicas, tenham também passado pelo IGC.
Mas que tipo de ciência se faz neste local? Mónica Bettencourt Dias explica com exemplos. “Acreditamos que o conhecimento sai muitas vezes daquilo que não é esperado e da perceção de pessoas com ideias diferentes. Temos aqui pessoas que tentam perceber como é que as nossas células se comportam. Mas também temos outras pessoas a estudar como é que os lémures em Madagáscar conseguem sobreviver naquele ambiente”.
Apesar de ter alguma dificuldade em destacar os projetos mais emblemáticos desenvolvidos pelo IGC, Mónica Bettencourt Dias salienta algumas das mais recentes descobertas feitas em Oeiras. “Temos investigadores a estudar como é que as bactérias, quando sujeitas a antibióticos, podem ganhar resistências e como podemos atacar as vulnerabilidades dessas bactérias. Há também um investigador que descobriu que quando uma mosca está infetada por uma bactéria ela é mais resistente ao vírus. E com essa descoberta, há hoje pessoas no mundo que estão a libertar mosquitos infetados com bactérias porque assim não transmitem a dengue. Este é um exemplo de como se pode ir de uma investigação tão pura e tão fundamental para algo com tanta aplicabilidade”, assegura a investigadora e diretora do IGC.
Os exemplos continuam: uma investigadora do instituto ao estudar a relação entre o sistema nervoso, o sistema adiposo e o sistema imune descobriu provavelmente uma nova forma de regular a obesidade.