
À conversa com o Oeiras Valley, o Chairman da Sharing Foundation, Miguel Ladeira Santos, deu a conhecer o trabalho da fundação no desenvolvimento de novas metodologias de ensino tendo em vista a promoção de um ensino internacional, multilingue e multicultural nas escolas. No decorrer da conversa deu ainda destaque ao trabalho realizado na International Sharing School em Oeiras.
Leia a entrevista na íntegra e conheça o trabalho realizado pela Sharing Foundation tendo em vista o alargamento de horizontes no futuro da educação através da descoberta de novas metodologias de ensino.
Em entrevista, Miguel Ladeira Santos falou ainda das vantagens para a Sharing Foundation em ter uma das suas escolas internacionais sediadas no concelho de Oeiras, em particular nas suas características internacionais e empresariais, por ser um polo de excelência de Ciência e Tecnologia e por ser um município onde cada vez mais famílias internacionais escolhem viver.
Quase a completar uma década de promoção de um ensino internacional, multilíngue e multicultural nas escolas, quais os maiores contributos da fundação para a educação?
Na Sharing Foundation desenvolvemos modelos pedagógicos certificados e multidisciplinares, no que é um trabalho conjunto entre professores, psicólogos, designers, arquitetos e outros profissionais. Os conceitos pedagógicos subjacentes são sempre adaptados a um currículo específico – o curriculum IB – que permite uma maior flexibilidade do plano de estudos a implementar nas escolas e laboratórios. As nossas escolas internacionais – International Sharing School -, em Oeiras e na Madeira, são os veículos que utilizamos para implementar estes modelos, também estes ajustados com base na documentação e análise do trabalho realizado no dia a dia.
O espírito de partilha da Sharing Foundation – daí o nome – promove a disponibilização do conhecimento a toda a comunidade e a outras instituições de ensino, independentemente de estas serem nacionais, internacionais, privadas ou públicas.
O ambiente de trabalho nas nossas escolas é muito diferenciado, não só na forma de ensinar, mas também na forma de trabalhar tanto com os professores como com os alunos. Esta metodologia tem demonstrado resultados muito positivos, nomeadamente nos resultados do curriculum IB que demonstram que a média escolar dos nossos alunos está acima da média das escolas IB de todo mundo, tanto no MYP – do 6.º até ao 10.º ano – como no DP – do 11.º ao 12.º ano. Portanto, de certa maneira, vamos percebendo que este modelo pedagógico funciona acima da média e que devemos continuar a desenvolvê-lo.
“O espírito de partilha da Sharing Foundation – daí o nome – promove a disponibilização do conhecimento a toda a comunidade e a outras instituições de ensino, independentemente de estas serem nacionais, internacionais, privadas ou públicas.”
A Sharing Foundation centra a sua atividade em Portugal, mas trabalha também em articulação com outros países. Quais as principais características diferenciadoras de um ensino com uma forte vertente internacional em comparação ao ensino tradicional?
Para a Sharing Foundation, o ensino internacional tem como grande vantagem a multiculturalidade e o multilinguismo, a par de outras áreas, não se resumindo apenas à forma de ensino. Portanto, não trabalhamos apenas na transmissão de conteúdos, na recolha de informação ou no tratamento de informação, mas trabalhamos também outro tipo de soft skills, como o contacto com outras culturas.
O conjunto dos nossos alunos reúne mais de 60 nacionalidades, característica que promove a interação entre diferentes culturas, religiões, origens étnicas, entre outros aspetos, que permite desenvolver uma série de competências sociais que de outra maneira seriam muito difíceis de trabalhar.
“O objetivo não é tanto que os alunos sejam fluentes em todas estas línguas, mas, sim, garantir o aumento da plasticidade do seu cérebro.”
Além disso, existe ainda a questão do multilinguismo. Nas International Sharing Schools trabalhamos em inglês e também ensinamos português, a língua do país nativo e que todos aprendem nos diferentes níveis, tendo em conta o seu nível de fluência. Todos os nossos alunos aprendem mandarim, alemão e russo, e têm ainda como língua optativa o espanhol ou francês.
O objetivo não é tanto que os alunos sejam fluentes em todas estas línguas, mas, sim, garantir o aumento da plasticidade do seu cérebro. No decorrer do nosso trabalho com psicólogos, professores e outros analistas, a experiência indica que a plasticidade do cérebro tende a aumentar quando os alunos, desde novos, aprendem diferentes línguas, sobretudo com recurso a diferentes alfabetos, devido à transição entre idiomas. Verificamos, em particular, níveis de performance mais elevados em matemática e em ciências depois de os alunos iniciarem este tipo de ensino. Estas áreas de conhecimento e as línguas estimulam partes diferentes do cérebro, mas constatamos que estimular uma parte acaba também por estimular outra. Não se trata, portanto, de apenas oferecermos um ensino internacional, mas sim do nosso forte investimento nas componentes do multiculturalismo e do multilinguismo.
Pode descrever alguns dos principais projetos em desenvolvimento na Sharing Foundation?
Um dos principais focos – provavelmente aquele pelo qual somos mais conhecidos pelo público mais leigo -, são os nossos espaços de trabalho altamente diferenciados, desenhados por designers, arquitetos e psicólogos. O seu propósito não é necessariamente estético, embora os espaços sejam amplos e apelativos, tanto para os alunos como para os professores e até para alguns pais. O nosso objetivo passou por desenhar os espaços com base no Curriculum IB e de forma a potenciar a forma de ensino dos conteúdos e a sua receção por parte dos alunos.
Na composição dos nossos espaços de trabalho, nenhum elemento é escolhido ao acaso, onde todos os materiais, cores e mobília são selecionados por uma equipa multidisciplinar para potenciar as aprendizagens de cada disciplina. Ou seja, desde a altura dos sofás, que foram projetados para estarem dez centímetros acima dos ombros dos estudantes, de maneira que os estudantes se sintam mais confortáveis e com um sentido de proteção quando se sentam, até às cores mais vivas em certas áreas ou cores mais neutras noutras. Pretendemos com este trabalho reduzir os níveis de stress e ansiedade dos alunos e aumentar a sua motivação e vontade de querer aprender.
“Na composição dos nossos espaços de trabalho, nenhum elemento é escolhido ao acaso, onde todos os materiais, cores e mobília são selecionados por uma equipa multidisciplinar para potenciar as aprendizagens de cada disciplina.”
Na sua opinião, quais são as grandes vantagens para a Sharing Foundation por ter um dos seus colégios internacionais localizado no concelho de Oeiras?
O produto de um colégio internacional, por norma, está sempre muito direcionado para famílias internacionais, não só pelo poder de compra, mas também pela familiarização com mudanças entre países e, nesse sentido, por procurarem um modelo educativo que seja mais transversal e reconhecido em vários países, como é o caso do curriculum IB – reconhecido em 200 países. Portanto, na transição de um aluno desta escola IB para qualquer outra escola IB, a transição é automática e não há qualquer complicação.
“Oeiras tem a grande vantagem de ser um grande polo internacional e empresarial, onde cada vez mais famílias escolhem este município para viver.“
Em Oeiras, os nossos estudantes são maioritariamente internacionais, cerca de 85%, e os restantes 15% são portugueses. Queremos muito aumentar esta franja, no que é parte de um trabalho contínuo.
Oeiras tem a grande vantagem de ser um grande polo internacional e empresarial, onde cada vez mais famílias escolhem este município para viver. Em particular, o facto de a nossa escola estar localizada no Taguspark significa a inclusão num polo de excelência de Ciência e Tecnologia, onde também acrescentamos valor à nossa maneira. Em Oeiras conseguimos também oferecer uma localização central entre o eixo Lisboa – Cascais – Sintra. Em suma, é uma posição ideal por ser um município onde cada vez mais famílias internacionais estão a procurar residência e é também onde cada vez mais empresas internacionais estão a sediar-se.
A Sharing Foundation associou-se como Parceiro Fundador do Festival Internacional de Ciência, em colaboração com o Município de Oeiras. Na sua leitura, de que forma beneficia a população com este tipo de parcerias?
A nossa envolvência com o Festival surge para potenciar esta partilha que já referi. Durante o evento vamos realizar Open Days em que as pessoas vão ser convidadas a visitar a nossa escola. Vamos também oferecer formações na área de Educação para alunos e para famílias, para ajudar os pais a compreenderem novas maneiras de motivar os seus filhos na escola, quer seja nacional ou internacional, pública ou privada.
“As iniciativas que realizamos em conjunto com o Município têm sempre por base a partilha do conhecimento que reunimos, organizamos e preparamos para exportar”
Vamos também montar uma das nossas salas-modelo, onde vamos dar algumas aulas para as camadas mais jovens que vão estar no festival. Queremos mostrar o nosso trabalho na área da educação e esperar que cada um possa retirar proveito à sua medida.
As iniciativas que realizamos em conjunto com o Município têm sempre por base a partilha do conhecimento que reunimos, organizamos e preparamos para “exportar”.
Pode referir-nos mais algum projeto desenvolvido em parceria com a Câmara Municipal de Oeiras ou com a comunidade local?
Recentemente, convidámos a Rosan Bosch, a designer que nos ajudou a conceber todo o espaço da nossa escola e quem nos ajuda também no brainstorming para pensar “fora da caixa” e dar saltos mais atrevidos num sistema educativo que é muito conservador, a vir dar uma palestra a Oeiras para professores das escolas públicas do Município e apresentar-lhes novas maneiras de trabalhar.
A par dessa ação, a Sharing Foundation fez também a tradução oficial do livro escrito pela Rosan Bosch – “A utilização do Design para a criação de um Mundo Melhor através da Educação nas escolas” –, obra disponibilizada posteriormente pela Câmara Municipal a todos os professores do município.