
O Instituto Superior Técnico (IST) está em Oeiras desde 2000, quando abriu um novo campus que pretende concretizar a visão do ensino da engenharia, ciência e tecnologia assente na ligação entre a universidade e as empresas. Rogério Colaço, presidente do IST, fala no potencial de crescimento deste polo e das oportunidades que acredita existirem para a criação de iniciativas de empreendedorismo de base tecnológica e de potenciação de transferência do conhecimento face ao ecossistema em que se insere.
O Instituto Superior Técnico (IST) foi criado por Alfredo Bensaúde, em 1911, tendo como objetivo formar engenheiros civis. Ao longo de praticamente um século de história foi crescendo e tornou-se na maior escola de engenharia, ciência e tecnologia do País. Mas na viragem do último século, a necessidade de expansão levou a instituição a estender a sua atividade da Alameda, no centro de Lisboa, para Oeiras, mais em concreto para o Taguspark. É neste que é considerado o maior parque tecnológico do país que o IST dá continuidade à matriz em que assenta a sua formação: as “mãos na massa”. Neste campus, o instituto alia o ensino e a investigação, apoiado em alguns dos mais inovadores laboratórios científicos que lá instalou.
Em entrevista ao Oeiras Valley, Rogério Colaço, presidente do IST, explica quais são as principais áreas de atuação e os principais fatores distintivos deste campus, vincando ainda as vantagens do IST estar instalado em Oeiras.
Quais as grandes vantagens do Técnico em estar instalado em Oeiras?
Aqui, a nossa operação tem uma vantagem significativa face, por exemplo, ao nosso polo de lisboa: tem a possibilidade de crescer e tem a possibilidade de se moldar ao futuro, criando novas iniciativas. Esta zona onde nós estamos, com uma séria de empresas aqui à volta, é um local com um potencial enorme para a criação de iniciativas, nomeadamente na área do empreendedorismo de base tecnológica e da potenciação da transferência do conhecimento que é gerado aqui.
Portanto, temos aqui uma capacidade de crescimento enorme neste ecossistema onde estamos inseridos e que, de resto, é a ideia inicial. Quando é construído o parque de ciência e tecnologia do Taguspark e o Técnico vem para aqui, a ideia é essa: criar um sistema onde haja autofecundação proveniente de termos empresas, instituições de conhecimento, instituições de investigação apenas – como por exemplo o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) — e instituições de investigação e formação — como é o Instituto Superior Técnico. Portanto, a ideia inicial é criar um sistema pulsante em que haja alimentação mútua de todas estas instituições. Neste momento, temos isto e é altura de dar o que nós engenheiros chamamos de “quantidade de movimento”: pôr a andar até que seja imparável. É isto o que estamos a tentar fazer.
“Temos aqui uma capacidade de crescimento enorme neste ecossistema onde estamos inseridos”
A área de empreendedorismo de base tecnológica e da criação de spin-offs, com o conhecimento que nós temos no Técnico nestas áreas e com os departamentos e centros que temos aqui, com a envolvente de empresas que temos à volta, e com a possibilidade de crescer em área, criando iniciativas que se expandam, é muito grande. Há que aproveitá-la em prol do território, do Instituto Superior Técnico e do país.
O IST e a Câmara de Oeiras assinaram recentemente um memorando de entendimento. Qual o seu significado?
O memorando é a união de esforços de uma instituição académica como é o Instituto Superior Técnico com o Município de Oeiras em torno de um projeto comum. É desenvolver o ecossistema nesta região, trazendo vida, atividade, dinamismo, formação, conhecimento, para o local onde nós estamos. Uma das coisas que resulta também do nosso memorando de entendimento é o apoio da Câmara no alindamento da envolvente paisagística do sítio onde nós estamos.
O Técnico já tem alguns projetos de parceria com instituições do concelho. Pode falar de algum deles?
Neste momento, o que nós fizemos foi dar o pontapé de saída para o estabelecimento de protocolos com várias empresas e instituições que nos rodeiam aqui em várias áreas. Estamos rodeados por um conjunto de empresas essencialmente na área de tecnologias de informação e comunicação com a quais temos contactado, temos trazido para verem o que é feito aqui e em que é que podemos ser úteis. Temos várias áreas: jogos, a fala robótica, espaço. Temos aqui uma iniciativa muito interessante que ninguém sabe que existe que é a construção de um satélite que, se tudo correr bem, iremos colocar no ar no início do próximo ano; temos a área do mar; a área do espaço e da engenharia aeroespacial. São tudo áreas em que temos competências aqui, num sítio adequado ao seu crescimento, assim haja “estradas” para levar o que nós fazemos até quem pode usar e tirar partido dessas iniciativas.
É esse o nosso empenho e é isso o que temos estado a fazer nestes últimos meses com o apoio da Taguspark SA – também muito empenhada na inserção do instituto –, da Câmara Municipal de Oeiras e das empresas da envolvente.
Face a este ecossistema tecnológico que há aqui já estão a aproveitá-lo de alguma forma? Pode dar exemplos concretos de parcerias em que estejam a trabalhar?
Estamos a lançar os nossos primeiros projetos, mas neste momento não posso falar sobre eles. Mas vão acontecer coisas. Daqui a um ano já poderei dizer algo.
Quais são os principais fatores distintivos da formação do IST?
O modelo formativo dos alunos do Técnico assenta em dois pilares: assenta nas aulas e assenta na componente de formação “mãos na massa”. Essa formação “mãos na massa”, em pleno século XXI, é essencialmente dada aos alunos dos diferentes ciclos através dos laboratórios que são feitos especialmente para a formação ou para a investigação. Ou seja, aquilo que distingue a formação do Instituto Superior Técnico é que é feita em aula e é feita em investigação: investigação dos seus professores e docentes e dos seus alunos que são trazidos para os laboratórios durante a formação pelos seus professores. Portanto, aquilo que aqui existe, ou em qualquer local do Técnico, são salas de aulas normais e laboratórios de ensino e laboratórios de investigação que são utilizados por alunos, nomeadamente, de ciclos mais avançados: mestrado e doutoramento.
E no que respeita à investigação, quais são as áreas diferenciadoras deste campus?
As grandes áreas que neste momento temos com apoio laboratorial e com diferenciação são as tecnologias de informação e comunicação, sobretudo com um grande centro de investigação do Instituto Superior Técnico que é o INESC; Temos toda a componente de apoio laboratorial à gestão industrial, nomeadamente nas áreas de logística, através do centro de investigação em gestão industrial do Técnico que é o CEGIST; Temos a parte de robótica submarina e aquática que achamos há uns anos atrás faria sentido instalar aqui no Taguspark devido à proximidade do mar e à facilidade de fazer algumas experiências de campo com maior proximidade.
Aqui onde estamos, em Oeiras, o potencial de criar uma dinâmica de trazer alunos internacionais para aqui — devido às condições que temos, com a praia a dois quilómetros de distância e com este enquadramento num vale lindíssimo — é muito grande.
Depois, temos uma área nova que começamos a abrir este ano — e que no próximo ano teremos pela primeira vez um mestrado nesta área — que é a da biotecnologia e da engenharia de células e de tecidos. No próximo ano arrancaremos aqui com um curso de mestrado em engenharia biomédica e medicina de precisão que tira partido dessa infraestrutura laboratorial que já aqui existe.
Um fator importante também é a componente da internacionalização. No próximo ano, pela primeira vez no Instituto Superior Técnico e aqui no Taguspark, vamos receber um conjunto de estudantes americanos. Vamos instalá-los aqui, e vamos dar-lhes formação num acordo de duplo grau em engenharia e gestão industrial. Este é outro vetor importante.
Aqui onde estamos, em Oeiras, o potencial de criar uma dinâmica de trazer alunos internacionais para aqui — devido às condições que temos, com a praia a dois quilómetros de distância e com este enquadramento num vale lindíssimo — é muito grande. Os alunos estrangeiros também vêm à procura de sítios bonitos.
Há características comuns no perfil dos alunos do Técnico deste campus?
Recebemos os melhores alunos do país e é um privilégio ensinar estes jovens. Naturalmente, os que estão aqui neste polo são sobretudo alunos das áreas das informáticas, das tecnologias de informação e comunicação: engenharia informática, engenharia de telecomunicações e engenharia eletrónica. Esses alunos por si só têm um determinado perfil técnico. Depois temos os alunos de engenharia e gestão industrial que é um curso também muito voltado para a análise de dados, mas também para o empreendedorismo e para a interface entre aquilo que é a engenharia, a gestão e a economia. Esses alunos também chegam aqui com um perfil diferente e com objetivos de carreira diferentes. Mas o perfil comum a todos os alunos do Técnico, em que os alunos do aqui no Taguspark não são diferentes: é serem alunos excelentes, com uma enorme capacidade de trabalho.
Como é que gostaria de ver daqui a dez anos este campus?
Daqui a dez anos este polo tem de ser — e vai ser, estou absolutamente certo disso — um exemplo daquilo que deve ser um polo universitário, com uma inserção no tecido social à volta, com instalações e com uma envolvente adequada àquilo que deve ser um espaço académico e universitário. E depois, com um conjunto de três ou quatro áreas em que tem todas as condições para ser, que seja um exemplo daquilo que de melhor se faz no nosso país e a nível internacional. No nosso polo em Oeiras, há aqui três ou quatro áreas — a gestão industrial, tecnologia de informação e de comunicação e subespecialidades dessas áreas – que penso que no futuro a dez anos se desenvolverão, permitindo atingir esses patamares de excelência, que é sempre o nosso objetivo.