À conversa com o Oeiras Valley, o Vereador da Câmara Municipal de Oeiras, com os pelouros da Educação, Bibliotecas, Ciência e Inovação, Desporto e Juventude, Pedro Patacho, fez um balanço sobre a Estratégia para a Ciência e Inovação do Município, falou sobre ambição e deu a conhecer alguns dos projetos em curso.
É licenciado em Ensino de Matemática e Ciências na Natureza, pelo Instituto Superior de Ciências Educativas, Mestre em Educação, pela Universidade de Lisboa, e Doutor em Didática e Organização Escolar, pela Universidade da Coruña, Espanha.
Que balanço faz dos últimos anos da Estratégia para a Ciência e Inovação do Município?
Oeiras tem uma densidade empresarial, uma quantidade de centros de ciência e instituições de ensino superior de grande prestígio, a população mais qualificada do país, uma rede pública e privada de educação e ensino de muita qualidade, um território muito bem organizado, muito bem planeado, níveis de geração de riqueza que nos colocam como a segunda economia do país, a seguir a Lisboa, e o valor de rendimento per capita mais elevado do país.
Olhando para tudo isto, e estando nós inseridos, hoje, numa nova economia, cuja base e o motor de desenvolvimento é, sem dúvida, o conhecimento e aquilo que as pessoas conseguem fazer com os conhecimentos e as capacidades que adquirem, não apenas no sistema de ensino formal, mas através de todas as oportunidades e experiências formativas que conseguem realizar ao longo da vida, nós percebemos que, se o foco é o conhecimento, se a ciência e a inovação são centrais na nova economia, ou melhor, para a competitividade na nova economia, e sendo Oeiras aquilo que é, fazia todo o sentido termos uma estratégia para a ciência e tecnologia que procurasse fazer uma coisa: ligar todo o potencial que o concelho contém, encontrar sinergias e unir esforços em torno de uma visão comum.
E foi isso, obviamente, que fizemos com as partes interessadas, digamos assim, os stakeholders do concelho, com um instrumento de trabalho – a parceria – e com uma filosofia de trabalho – a rede. Gerar uma rede de parcerias e de trabalho colaborativo. E os resultados são muito positivos.
No primeiro eixo de desenvolvimento mais ligado com a ciência, a tecnologia, a sociedade, a cultura e a educação, fizemos coisas absolutamente extraordinárias.
Nós hoje temos em marcha, por exemplo, um programa de aceleramento do ensino das ciências nas escolas absolutamente extraordinário. Numa altura em que o país, a partir de 2012, deixou de investir no desenvolvimento do ensino de base experimental na educação básica, Oeiras avança com um Programa de Desenvolvimento do Ensino de base experimental nas nossas escolas, do nosso concelho, em parceria com as equipas de investigação, os centros de ciência, as instituições de ensino superior, e os laboratórios que estão sediados no nosso concelho.
De dois clubes de ciência escolar, passámos para uma dezena. Em poucos anos, atingimos uma dezena de clubes de ciência escolar. E, para além disso, está em marcha todo um programa de apoio aos professores, de apoio às escolas, de envolvimento dos alunos, através do OeirasEduca+, e estamos a fazer coisas que nunca se fizeram, com um ritmo como nunca se fez, e envolvendo milhares de alunos, centenas de professores e dezenas e dezenas de escolas.
Estão em curso projetos de Ciência Cidadã, em que os cidadãos de Oeiras, espontaneamente, envolvem-se em projetos com os cientistas, de recolha de dados, em atividades como monitorização da biodiversidade e conservação da biodiversidade no nosso concelho, ou relacionados com a produção alimentar e a qualidade nutricional dos alimentos e em aspetos como a produção intensiva versus a produção biológica alimentar.
Para além destes projetos, há ainda um grande conjunto de palestras, de colóquios, de debates e de iniciativas ao longo do ano, com os maiores nomes da ciência do nosso país, e de inovação e de tecnologia, que envolvem centenas e centenas de pessoas um pouco por todo o concelho, durante todo o ano. A ciência e os cientistas estão hoje mais próximos da comunidade e dos cidadãos.
E isto, estou, obviamente, a citar de cor, em apenas um dos eixos do desenvolvimento, mais ligado à cultura, à sociedade, à educação e às suas ligações com a ciência, com a tecnologia e com a inovação. Mas, se nós pularmos para o segundo eixo – eles são três – o da inovação, por exemplo, o balanço é muito positivo.
Nós demos e continuamos a dar apoio às dinâmicas de inovação das instituições que estão sediadas no nosso território. Criou-se o Gabinete Inovalley, um gabinete partilhado de inovação e de transferência de tecnologia para o mercado, de apoio à contratualização com a indústria e ao registo de patentes. Portanto, o apoio a tudo isto, aos cientistas, a todo este processo, a identificarem valor na sua ciência e transferi-la para a economia através de produtos ou serviços de valor acrescentado. E esse gabinete está a ser um extraordinário sucesso. Associado a ele está o Fundo de Financiamento de Provas de Conceito, no valor de 250.000 €, 150.000 € financiados pela Câmara Municipal. E muito mais está a ser feito nesta área.
Temos um outro segmento, um terceiro eixo, o da internacionalização, onde o balanço também é bastante positivo, mas talvez seja o eixo onde temos de investir mais e trabalhar mais. E tem a ver com a visibilidade internacional do concelho de Oeiras, através da ciência, do conhecimento, da inovação que aqui é produzida, o que significa trazer para cá, com muita regularidade, os cientistas de topo a nível mundial, promover sabáticas, encontros…
Um passo muito importante que foi dado para isso foi a criação do Centro Colaborativo Internacional, em parceria com o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), que funciona como uma placa giratória na qual, ao longo do ano, passam muitos cientistas, de muitas nacionalidades e de muitas áreas do conhecimento de todo o mundo.
Houve já aproximações com o Instituto Superior Técnico, para além daquilo que são os parceiros tradicionais do IGC, como é o caso do ITQB NOVA, que gostei muito de ver, porque é, de facto, esta filosofia de trabalho em rede, a construção de redes colaborativas, esta filosofia da qual os próprios parceiros se apropriaram, que é impulsionada pelo município, mas vivida pelos stakeholders locais e apropriada e transformada pelos stakeholders locais. E isto é absolutamente extraordinário.
Para essa estratégia de internacionalização, eu tenho a certeza que vai dar um excelente contributo a Casa dos Cientistas. É uma obra de recuperação do Palacete dos Sete Castelos, no coração da Vila de Oeiras, em Santo Amaro de Oeiras, e que vai ser uma residência vocacionada para acolher investigadores seniores e, portanto, com muito prestígio nas suas áreas e que visitem o nosso concelho, no âmbito daquilo que são os seus projetos de parceria e de investigação com as instituições que estão cá sediadas.
Nós queremos receber cá prémios Nobel, queremos trazer cá os melhores cientistas nas suas áreas do conhecimento. Queremos que não só venham cá porque as nossas instituições são instituições de classe mundial e, portanto, por isso, têm parcerias com as suas instituições e eles vêm cá, mas queremos mostrar-lhes Oeiras, o que é este ecossistema único no país.
Queremos que sejam bem recebidos, num palacete que lhes vai estar dedicado, que é muito diferente de estar num hotel completamente impessoal e com um ambiente completamente abstrato. É toda uma casa, pensada para receber conversas, debates sobre ciência, receber cientistas, acomodá-los, alojá-los lá durante a sua permanência, aqui, em Oeiras, e poderem, quando vão embora daqui, depois das suas curtas estadias de uma, duas semanas, de três, um mês, poderem dar testemunho da forma como foram recebidos, num concelho que valoriza a ciência, que valoriza o conhecimento.
Somos o concelho que recebe um dos maiores concertos de rock do mundo, o Nos Alive, mas é também o concelho onde os cientistas e os empreendedores são os verdadeiros rockstars.
Que principais desafios encontrou na sua execução?
Os desafios são os tradicionais e os habituais neste tipo de projetos. São internos e externos, e, para além dos desafios, acho que também é importante colocar a tónica nas ambições.
Os desafios são os habituais, a começar internamente. A Câmara Municipal de Oeiras é uma organização muitíssimo grande. Se nós juntarmos as empresas municipais e o universo das escolas, nós temos mais de 3000 trabalhadores.
Nós chegámos à conclusão que, para esta estratégia ser bem-sucedida, ela tinha de ter uma equipa dedicada e criámos uma equipa dedicada. Mas, a dada altura, o trabalho era tanto que a equipa dedicada já não era suficiente. Para ela poder crescer, demos-lhe expressão orgânica, ou seja, criámos, na própria orgânica do município, uma divisão nova, a que chamámos de Divisão de Ciência e Inovação, com uma chefe de missão e a sua equipa.
Se nós perguntarmos a qualquer dirigente da Câmara Municipal de Oeiras, na sua área de atuação, se precisa de mais colaboradores, provavelmente não vamos encontrar um que diga que não. E, aqui, na ciência, não é exceção. A dimensão da equipa é sempre uma questão.
Portanto, um desafio é de facto a equipa. O trabalho vai crescendo, vamos chegando a cada vez mais instituições, vamos tendo cada vez mais programas, projetos e atividades. E, às tantas, a equipa é a mesma e, portanto, ter uma equipa mais robusta, que possa fazer mais, mais depressa, e estar mais perto das instituições e mais perto dos projetos é um desafio importante. Mas é um desafio que nós vamos enfrentando, vamos resolvendo paulatinamente.
Outro desafio habitual com que sempre nos confrontamos são as questões orçamentais.
O senhor Presidente da Câmara assumiu o compromisso político de dedicar, pelo menos, 1% do orçamento municipal à ciência. Oeiras teve, em 2023, 245 milhões € de orçamento. Nós estamos a falar de 2 milhões e 450 mil euros consignados à ciência. Mas, ainda assim, não é suficiente.
São este tipo de desafios, porque nós estamos a falar de uma área ao nível de uma autarquia local, de uma câmara municipal, onde o que estamos a fazer é de um pioneirismo enorme, onde o entusiasmo das pessoas é enorme, a começar pelo vereador e pelo meu gabinete e pelos próprios serviços. O entusiasmo é enorme porque todos sentimos que estamos a fazer uma coisa diferente, que nunca foi feita, que não é comum numa autarquia local, que é diferenciadora e sentimos os resultados, sentimos a adesão das instituições, dos centros de ciência, das pessoas e isto é extraordinariamente positivo. É o que nos alimenta. É esse reconhecimento da comunidade.
Externamente, eu talvez diria que, também os desafios são os habituais.
A ciência é um bocadinho diferente nesta matéria, porque a ciência é uma atividade que, ao contrário do estereótipo que muitas vezes existe na cabeça das pessoas, de que o cientista é um “tipo com um ar maluco que está lá fechado num laboratório a fazer umas coisas sozinho”, enquanto empreendimento humano, a ciência é uma atividade intensamente colaborativa. Portanto, os cientistas, à partida, estão predispostos para se abrir à comunidade, para abrir o seu trabalho, divulgar o seu trabalho e colaborar com outras pessoas.
Ao nível institucional já não é assim tão fácil, porque as instituições competem entre si. E, portanto, um desafio que sempre tem existido, que continua a existir, mas que vamos superando paulatinamente, é, de facto, a construção desta rede colaborativa, e, mais do que colocar a Câmara Municipal a colaborar com as várias instituições, é colocar as várias instituições a colaborar entre si.
Já há alguma tradição. As das ciências da vida, por exemplo, o Instituto Gulbenkian de Ciência, O ITQB, o iBet, o INIAV, já tinham tradição de colaboração entre si e têm estado a intensificar essa colaboração.
Entre, por exemplo, as ciências da vida e outras áreas não é tão comum. Portanto, um desafio grande é, de facto, que esta rede se vá materializando através da cooperação interinstitucional, mais do que a cooperação unilateral da Câmara Municipal com cada uma das instituições.
Mas mais do que os desafios, uma nota que eu gostava de deixar é sobre as ambições.
O que o futuro nos reserva, aqui, em Oeiras, na área da ciência, se aquilo que tem vindo a ser planeado nos últimos anos se concretizar, é absolutamente notável e Oeiras pode afirmar-se como um dos maiores polos de ciência e inovação na Europa em determinadas áreas do conhecimento, particularmente, nas ciências da vida, e ser decisivamente o mais relevante polo em Portugal.
Eu, há pouco, dizia que as instituições das ciências da vida que estão aqui já têm uma tradição de colaboração entre si que é relevante. Bom, como resultado deste trabalho todo que tem estado a ser feito e esta ideia de intensificação da rede e de atração de instituições de ensino superior, perspetiva-se um crescimento forte desse cluster e para Oeiras é muito importante ter mais centros de ciência e ter mais instituições de ensino superior, porque isso faz parte do nosso modelo de desenvolvimento económico.
Nós não temos 245 milhões de orçamento por acaso. Nós temos 245 milhões de orçamento porque temos mais de 540 empresas por quilómetro quadrado a gerar 28 mil milhões € de volume de negócios todos os anos, a maior parte delas empresas de base tecnológica e de produtos e serviços de valor acrescentado que empregam pessoas muito qualificadas, que têm médias salariais muito elevadas, o que se reflete na arrecadação de impostos pelo município, o que permite ter fortes políticas de investimento e de redistribuição de recursos que geram, qualidade de vida para todos. Este é o segredo de Oeiras. É provavelmente o concelho de Portugal onde mais intensamente se concretizou o ideal da social-democracia.
Alimentar esta economia baseada num tecido empresarial que produz produtos e serviços de valor acrescentado e emprega gente altamente qualificada, implica que nós temos de continuar a atrair para o nosso território centros de saber e de produção de conhecimento que continuem a criar ligações fortes com o tecido empresarial e continuem a alimentar as necessidades de contratação desse tecido empresarial.
Nós temos de ter mais engenheiros, nas várias áreas, formar mais pessoas, na área da ciência. Também queremos, e as instituições estão atentas a isso, que esses engenheiros e esses novos cientistas também tenham uma sólida base humanista. Isso é muito importante para nós. A história já nos mostrou que a ciência e a técnica sem humanismo podem ser perigosas.
Portanto, a atração de instituições de ensino superior é um aspeto crítico, de centros de saber, de ciência e de conhecimento, é crítico para o modelo de desenvolvimento de Oeiras.
Como resultado de todo este envolvimento ao longo dos últimos anos, alguns parceiros que já cá estão e outros que cá não estavam, decidiram investir em Oeiras. A Universidade NOVA de Lisboa, que tem aqui o Instituto de Tecnologia Química e Biológica, sediado no nosso concelho, decidiu incrementar o seu investimento em Oeiras, e, brevemente, vão ser anunciadas grandes novidades.
A Universidade Católica Portuguesa, que há pouco tempo acabou de abrir a Faculdade de Medicina aqui no nosso concelho vizinho em Sintra, olhou para Oeiras e para aquilo que Oeiras estava a fazer com muita atenção e decidiu colaborar connosco no desenvolvimento da sua formação avançada e investigação em biomedicina. Estamos a apoiar a criação do novo Instituto de Investigação Biomédica da Católica, que já está neste momento a ser incubado em Oeiras, com o apoio municipal de 1.641.000 € e, portanto, o futuro Instituto de Investigação Biomédica da Católica será também aqui.
O que vai acontecer na Quinta de Cima, do Marquês de Pombal, juntando tudo aquilo que lá existe, mais o envolvimento da Universidade Católica Portuguesa, mais a criação de uma nova escola da Universidade NOVA de Lisboa, mais a possível transferência para ali de uma série de capacidades que a Universidade NOVA já tem… O que vai ali acontecer é a criação de um mega campus científico, no qual vão trabalhar entre 2500 e 3000 cientistas, todos os dias, envolvidos numa dinâmica de One Health, um campus, uma saúde, e investigação 360º graus na área da saúde, seja saúde humana, saúde animal, saúde alimentar, nutrição e no desenvolvimento alimentar.
Quer dizer, o que se prepara para ali vai ser absolutamente notável.
Eu estou confiante que vamos conseguir e haverá certamente novidades, ainda este ano de 2023, comunicadas publicamente relativamente a estes grandes investimentos. Estamos a falar de aproximadamente 130 milhões € de investimento em ciência nos próximos cinco a seis anos. É notável.
Como é que o projeto Oeiras Valley tem contribuído para atingir os objetivos nos seus pelouros e como pensa que vai contribuir para o próximo ano?
Oeiras Valley é uma ideia. Mais do que um projeto, é uma ideia, é um conceito que depois se materializa através das ramificações que produz em todas as áreas de governação da Câmara Municipal de Oeiras.
E quando eu digo que é um conceito, que estamos a falar de uma ideia, refiro-me a um território cuidadosamente planeado, altamente qualificado do ponto de vista dos equipamentos públicos, daquilo que está disponível para os cidadãos, não só de equipamentos, mas também de serviços, que congrega um conjunto, uma densidade empresarial de empresas de alto valor acrescentado, muito grande. E está preparado e disponível para receber mais investimento.
Também tudo o que eu estava a dizer também há pouco, como o facto de termos pessoas altamente qualificadas… Portanto, esta ideia de um território altamente qualificado, preparado para receber investimento em qualquer momento e em qualquer parte do território. É esta ideia que traduz o conceito do Valley, de um território de prestígio.
Este conceito, depois, produz ramificações em todo o lado: na área do ambiente, na área do planeamento, na área das obras públicas, na área da educação, na área do desporto, na área da juventude, na área da cultura, enfim, quer dizer, todas as áreas de governação do município, depois, acabam por estar imbuídas deste conceito, desta ideia, cada dirigente e cada equipa técnica em cada área, seja cultura, seja ambiente, sejam obras de planeamento em educação, seja juventude, seja desporto, seja ciência, seja aquilo que for, cada equipa está imbuída deste espírito.
Nos meus pelouros procuro contribuir para este conceito e para a afirmação do Valley, ou seja, deste território. Portanto, desse ponto de vista, o contributo do projeto Oeiras Valley é absolutamente notável, porque deixa de haver uma ação fragmentada da Câmara Municipal, mas ela ganha uma coerência absolutamente notável, porque toda essa ação converge para um vértice que é aquele conceito, e todos nós sentimos que estamos a trabalhar para materializar esse conceito, essa visão extraordinária.
Portanto, eu diria numa frase mais simples que o extraordinário contributo do Projeto Oeiras Valley é dar um sentido, uma orientação, uma direção a toda a atuação da Câmara Municipal, seja em que área for.
Todos estamos imbuídos desse espírito, todos estamos concentrados nesse conceito e a contribuir para o materializar esses vetores de desenvolvimento em cada área de governação. E isso é notável.
Evidentemente, que também é uma ideia muito trabalhada e muito burilada na cabeça de um presidente de câmara que é notável e que para mim, é o melhor presidente de câmara que Portugal alguma vez viu, no regime democrático, e que, depois de muitas décadas de trabalho e de experiência na governação do território e de muito amadurecer a ideia, chegou aqui, a este resultado, do desenvolvimento deste conceito que agora é público e que é visível. Este chegar aqui tem-se traduzido num extraordinário sucesso, quer interno quer externo. O Presidente Isaltino é um homem muito experiente, com uma visão extraordinária, muita sensibilidade e uma rara intuição política. A ideia é dele. Deu-nos pista para corrermos todos os dias.
A cada iniciativa que a Estratégia Oeiras Ciência e Tecnologia promove na área da ciência e da tecnologia e inovação, é muito comum nós sermos abordados por visitantes externos a perguntar o que é o Oeiras Valley, que estão muito interessados em saber, o que é que o município tem para lhes oferecer, como é que podem vir para cá, e, portanto, a comunidade apanhou bem esse conceito, sobretudo a comunidade empresarial, as instituições de ensino superior, a área da ciência… apanhou bem essa ideia e eu julgo que se sente confortável com ela e começa a sentir um certo brio e um certo orgulho de fazer parte deste ecossistema: o ecossistema Oeiras Valley. E esse é o grande valor da ideia.
Assistimos ao longo deste último ano a investigadores ligados a estabelecimentos de ensino do concelho a receberem bolsas e a projetos desenvolvidos em Oeiras a ganharem prémios. Este é um reflexo do investimento do município na área da ciência e inovação?
Todos os anos estão a ser premiados projetos de inovação líderes nas suas áreas de conhecimento e a serem criadas condições para que esses projetos de inovação possam ser convertidos em produtos e serviços que cheguem ao mercado e beneficiem a vida das pessoas.
Aliás, ainda há 15 dias, numa cadeia de televisão, no conhecido programa “Falar Global”, se falava, precisamente, dos prémios Innovalley e da forma como eles estão a produzir conhecimento que pode chegar ao mercado e resolver os problemas de bem-estar, de saúde e da vida das pessoas.
Outro exemplo é o de um programa que criámos com os nossos parceiros, designadamente da Fundação Gulbenkian, um programa de bolsas a que chamámos Oeiras Valley Frontier Research Award. Um prémio que incentiva a continuidade da investigação de ponta a nível mundial. E socorremo-nos do ranking do European Research Council, que são as mais valiosas bolsas de investigação científica no espaço europeu, mas que todos os anos têm um limite orçamental, para isso. Há projetos de investigação e equipas de investigação com classificação máxima, mas que não chegam a obter financiamento porque o budget não é suficiente e ficam abaixo da linha de financiamento.
Pedimos autorização ao European Research Council para utilizar esse ranking e lançamos um convite aos cientistas que quiserem vir para Oeiras, podem fazê-lo com uma bolsa muito valiosa. Aliás, são duas bolsas de 125.000 € cada uma. No total, 250.000€ para virem, darem continuidade ao seu trabalho em Oeiras e poderem candidatar-se ao European Research Council na próxima edição e, portanto, não perderem o ritmo e continuarem a desenvolver conhecimento e a investigar.
Este programa foi tão bem-sucedido que a Senhora Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a Professora Elvira Fortunato, replicou-o a nível nacional e é hoje um programa, que foi lançado o ano passado, da Fundação para a Ciência e Tecnologia, inspirado naquilo que foi o trabalho da Estratégia Oeiras Ciência e Tecnologia com as instituições aqui.
E no próximo ano? Quais são as prioridades da Câmara Municipal de Oeiras na área da Educação, Desporto, Juventude, Bibliotecas e Ciência?
Nós vamos continuar, obviamente, a trabalhar e a intensificar esta nossa ação. Nós temos um programa extraordinário de bolsas de estudo do ensino superior. Quando nós cá chegámos, o município de Oeiras estava a garantir 37 bolsas anuais, este ano Académico de 22-23 já atribuímos perto de 1000 bolsas e estimamos chegar às 1200-1300, no próximo ano. Ora, está a ver, todos os anos, isto não pode deixar de vir a ter reflexo naquilo que será a elevação da qualificação da população de Oeiras, que já é a mais elevada do país.
Daqui a mais alguns anos não pode deixar de se distanciar daquilo que são o resto dos municípios, porque nós estamos a investir como nunca na educação e no conhecimento, não apenas nos projetos das instituições, mas nas pessoas, na ambição das pessoas de perseguirem uma formação académica universitária e depois, a partir daí, desenvolverem os seus projetos e as suas ideias e conseguirem singrar.
Isso, obviamente, vai continuar tudo aquilo que estamos a fazer na área da educação, cultura, sociedade, na ligação com a ciência e com a inovação, também.
Nós fizemos uma experiência extraordinária. Criámos o primeiro Festival Internacional de Ciência em Portugal. Nunca tinha havido nenhum.
O primeiro Festival de Ciência Europeu é de 1989 em Edimburgo, na Escócia, e muitos festivais de ciência se criaram na Europa mais desenvolvida, ao longo das décadas. Mas, Portugal, curiosamente, apesar de ter uma Fundação Ciência Viva, nunca teve um Festival Internacional de Ciência. E esta agenda de Oeiras, a coberto deste chapéu, Oeiras Valley, foi a agenda que criou o primeiro Festival Internacional de Ciência em Portugal, que teve duas edições extraordinariamente bem-sucedidas, mas com as quais também aprendemos muito. Razão pela qual este ano de 2023 não vamos realizar Festival de Ciência e regressaremos em 2024 com um festival de ciência diferente, melhor, mais ambicioso, com mais ligação ao nosso território, com mais projeção e visibilidade mediática nacional e internacional. E isso, claro, como resultado do trabalho que já se fez e da aprendizagem que se consolidou. O facto de não realizar o Festival de Ciência em 2023 não quer dizer que o Oeiras não continue a querer ter um dos melhores festivais de ciência do mundo. E vamos reiniciar esse processo em 2024.
E, depois, a grande ambição centra-se, obviamente, nos investimentos que aí vêm.
Na parceria com a Universidade NOVA de Lisboa, fazendo um bocadinho mais o disclosure, nós esperamos, em outubro, assinar um memorando de entendimento com a Universidade NOVA de Lisboa, que tornará claro quais são os quatro grandes projetos em que vamos trabalhar em conjunto nos próximos anos.
Aliás, os investimentos que se perspetivam a coberto deste memorando de entendimento são tão relevantes que, inclusivamente, a Universidade decidiu incluir a assinatura desse memorando nas comemorações dos 50 anos da Universidade NOVA de Lisboa. É bem simbólico, no sentido de transmitir a ideia de que os próximos 50 anos da universidade também vão passar por Oeiras.
E, portanto, eu diria que a grande ambição para o futuro é aquilo que estamos a planear em parceria com a Universidade NOVA e, também, aquilo que se está a planear para a Quinta de Cima do Marquês de Pombal, na área das Ciências da Vida, com a perspetiva de ser um dos mais relevantes campus de investigação em ciências da vida e da saúde no nosso país e na Europa.