As medidas excecionais decorrentes do Estado de Emergência causaram um forte impacto na vida das empresas portuguesas. Muitas tiveram de encerrar portas, recorrendo a medidas de apoio, como o layoff simplificado. As estimativas apontam para que cerca de 90 mil empresas já tenham recorrido a este mecanismo.
Muitas outras empresas tiveram de readaptar os seus processos e reorganizar as suas equipas para garantir a continuação das suas atividades. E o teletrabalho passou a ser uma realidade para muitas empresas. Um inquérito realizado no final de março pela Fixando estimava que quatro em cada 10 portugueses que se encontravam em casa devido ao período de quarentena estavam em teletrabalho.
Para a tecnológica portuguesa PHC Software, o teletrabalho não foi o maior desafio que o surto do COVID-10 trouxe, uma vez que a empresa já tinha metodologias que permitam o trabalho a partir de casa. “O grande desafio foi adaptar a empresa a este tempo de teletrabalho pouco normal, em que temos a família em casa, os amigos e os colegas praticamente todos na mesma situação”, explica o CEO, Ricardo Parreira. Nesta empresa, sediada em Oeiras, 98% dos colaboradores estão neste momento teletrabalho. Para agilizar o trabalho nestes tempos de exceção, todas as equipas têm uma reunião diária obrigatória de alinhamento ao início do dia e frequentemente são realizadas reuniões gerais com toda a empresa por teleconferência.
Mas nem todas as empresas podem continuar a sua atividade em regime de teletrabalho. No ISQ, o maior grupo de consultoria em engenharia e certificação da Península Ibérica, o surto do COVID-19 está a ter um impacto importante na sua atividade, uma vez que uma parcela importante do trabalho é assegurada presencialmente nas instalações dos seus clientes. “Esta pandemia, tal como está a afetar toda a economia, também está a ter um forte impacto no ISQ. A queda do volume de negócios será inevitável pois muito do trabalho que realizamos é nas instalações dos próprios clientes o que atualmente é difícil de fazer. Temos cerca de 30% dos nossos colaboradores em teletrabalho”, explica Pedro Matias, CEO do ISQ, que assegura ainda: “Tudo o que são funções que podem ser asseguradas em modo remoto está a ser feito para proteger os colaboradores e minimizar a presença nas nossas instalações”.
As projeções económicas do Banco de Portugal confirmam as consequências negativas que o surto do COVID-19 terá na economia. Num cenário base, o Banco de Portugal estima uma quebra de 3,7% do PIB em 2020. No entanto, num cenário mais adverso, em que o impacto económico da pandemia seja “mais significativo devido à paralisação mais prolongada da atividade económica em vários países, conduzindo a maior destruição de capital e perda de emprego” e a uma “maior incerteza e níveis de turbulência mais significativos nos mercados financeiros”, a quebra do PIB poderá atingir os 5,7% este ano, segundo o Banco de Portugal.
COVID acelera processos de inovação nas empresas
Para muitas empresas, a solução para contornar os efeitos negativos da paralisação da economia passa pela inovação. “Estamos a apostar na inovação de serviços. A atual situação obrigada as empresas a reinventarem-se”, assegura Pedro Matias do Grupo ISQ, dando como exemplo a ISQ Academy, que disponibiliza uma nova oferta de formação online, 100% à distância e em tempo real, em e-learning ou em ambientes virtuais colaborativos. “[Na ISQ Academy] falamos de capacitação e de aumento de competências (seja em eletricidade, energia, gás, manutenção, robótica, inovação, sistemas de gestão…) e falamos de soft skills (serviços ao cliente e gestão de pessoas), desenvolvendo-se soluções em formatos customizados, à medida das necessidades de cada cliente”, afirma o CEO do ISQ. Pedro Matias destaca ainda o novo serviço que o ISQ implementou para apoiar no combate ao COVID-19 e que permite garantir que os dispositivos médicos (DM) e os equipamentos de proteção individual (EPI) cumprem os requisitos das normativas da União Europeia (UE).
A rápida resposta e readaptação das empresas ao novo contexto é também um dos fatores positivos apontados por Ricardo Parreira, da PHC Software. “Fizemos o que se deve de fazer numa situação de crise: responder e adaptar rapidamente. Começámos muito cedo quando adaptámos o nosso maior evento para Parceiros PHC, o PHC Open Minds, para um formato digital, que obrigou a redefinir no espaço de duas semanas todo o trabalho de cinco meses”, explica o CEO da empresa tecnológica. Ricardo Parreira destaca ainda o facto de a empresa ter lançado uma extensão no seu software que permite simplificar os cálculos que as empresas têm de fazer para responder às medidas implementadas pelo Governo. “Lançámos também um programa especial de apoio à nossa comunidade de Parceiros PHC, e estamos muito focados em partilhar informação com as empresas que as ajuda a lidar melhor com esta situação. Temos inclusive uma página com informação útil, webinars gratuitos e artigos, que pode ser consultada no nosso site.”
O impacto do atual contexto no futuro das empresas
Num ponto os empresários e economistas estão de acordo: o surto do COVID-19 veio mudar os paradigmas e introduzir profundas alterações na economia, que vieram para ficar. “É difícil fazer um prognóstico muito preciso, mas uma coisa é certa: entraremos num novo normal. A digitalização das empresas vai acelerar, o teletrabalho vai crescer, novos hábitos serão formados. E o software será cada vez mais a peça do puzzle que permite que tudo isto seja possível”, avança Ricardo Parreira da PHC Software. E adianta: “O País não vai parar e as boas práticas de gestão e as decisões responsáveis serão cada vez mais determinantes – não só para enfrentarmos a crise, mas também como uma vantagem competitiva ao sairmos dela. É fundamental que as empresas não despeçam os seus colaboradores, porque preservam o conhecimento interno, porque preservam a economia e também porque é sua responsabilidade social segurar os postos de trabalho. Quem tomar a decisão de não despedir pessoas sairá fortalecido no pós-crise”.
Também Pedro Matias do ISQ tem expetativas em relação ao futuro da economia: “Algumas empresas poderão fechar, mas, ao mesmo tempo, poderão surgir outras com outro tipo de negócio. A capacidade de inovação e de adaptação do ser humano é brutal”.