Em Oeiras, há uma escola cujo Clube de Ciência Viva se tem feito notar pelo resultado obtido na aproximação da comunidade escolar às temáticas da ciência, um dos pilares em que assenta a estratégia do município.
Com o sugestivo nome S.P.A.C.E., este clube é dinamizado por Cristina Pinho, professora de Física e Química na Escola Secundária Sebastião e Silva (ESSS), que tem sido um verdadeiro “Rosto da Ciência” ao cultivar junto dos mais jovens o interesse pela ciência e, em particular, pelas temáticas em torno do Espaço.
Essa aposta tem sido tão bem conseguida que, ao longo dos últimos anos, têm sido vários os prémios conquistados pelos alunos deste clube que integra a rede de Clubes de Ciência Viva (CCV) de Oeiras, iniciativa apoiada pelo concelho através do programa “Ciência Aberta a Oeiras”. Conheça mais em detalhe o S.P.A.C.E. pelas palavras de Cristina Pinho.
Quando e em que contexto surgiu o Clube Ciência Viva da ESSS?
Em 2015 mudei de Escola e de Concelho e consegui o melhor local para ser professora. Nesse ano, apesar de ainda muito embrionário, o Clube começou a nascer: 3 alunos orientados por mim concorreram a um concurso internacional com a temática do Espaço e da Exploração Espacial – Odysseus II. Os alunos de 11º ano construíram um “Rover para exploração de Marte – Projeto LEARS”, com o apoio de um Mentor, professor do Ensino Superior. Conseguiram um honroso 1º lugar cujo prémio foi a visita ao Centro Espacial Europeu, na Guiana Francesa onde assistimos a um lançamento do Ariane 5 com 4 satélites Galileu. Foi uma experiência única para eles e para mim.
A minha formação inicial é química pelo que estava na hora de aprender mais sobre robótica e fiz formação – foram os alunos que me levaram a aprender e a estudar esta área. Fiz formação na ESERO Portugal e depois na ESA (Agência Espacial Europeia), Bélgica sobre Robótica. As formações da ESERO e da ESA foram muito inspiradoras para a criação da Sala de Robótica do Agrupamento de Escolas S. Julião da Barra que funciona na Escola Sede.
Ainda sem ser um Clube de Ciência Viva na Escola (CCVnE) foram realizadas várias atividades: Comemoração da Semana Mundial do Espaço, onde os alunos podiam colocar questões a astronautas e a outros cientistas; Visitas de estudo a Centros de Ciência – CERN, ESA, Cité de L’Espace, AirBus, Pavilhão do Conhecimento, Cidade das estrelas – Centro de Treino Yuri Gagarin em Moscovo, workshops de Rockets entre outros.
Quando em 2018 a Direção Geral de Educação e a Ciência Viva abriram o concurso para os Clubes de Ciência Viva houve oportunidade de concorrer e tem sido uma excelente experiência onde a partilha entre os vários clubes tem sido muito profícua.
Qual o propósito e mais-valia da existência deste Clube Ciência Viva?
O CCVnE do Agrupamento de Escolas S. Julião da Barra, Oeiras com o nome de S.P.A.C.E – Scientists, Physics, Astronauts, Creators and Educators (nome proposto pelos alunos do Clube) além de envolver os alunos em atividades científicas, tem uma vertente muito própria: voluntariado em que os alunos do ensino secundário são monitores dos alunos mais pequenos. Aprendem fazendo, pois investem na formação inicial e é na aplicação do que sabem com os mais pequenitos que consolidam essas mesmas aprendizagens.
Há uma boa articulação dos alunos mais velhos com os alunos de outros ciclos de ensino e envolvem também as famílias, no verdadeiro espírito de uma escola aberta à comunidade e em articulação com a família. As atividades intergeracionais são certamente uma mais valia para todos nós.
No Ano Internacional da Tabela Periódica – foi construída uma Tabela Humana num local idílico – Jardins do Palácio do Marquês de Pombal onde participaram alunos do 2º, 3º Ciclo e ainda ensino secundário e claro alguns pais e também avós. A Escola também pode e deve ser um polo de união e articulação com a família. Estas atividades são amplamente apoiadas pelo Município.
Qual tem sido a adesão dos alunos ao vosso Clube?
Logo no início do ano os alunos do ensino secundário inscrevem-se e a adesão tem sido muito boa. Alunos de 10º, 11º e 12º anos participam muito entusiasticamente. Este ano temos cerca de 60 voluntários que desmultiplicam a sua aprendizagem junto dos mais pequenos.
Estes alunos fazem formação em robótica, programação, impressão 3D e depois são monitores de robótica dos alunos do 1º Ciclo – Programa WeDo em Marte. Antes da pandemia os alunos do Concelho, mesmo fora do Agrupamento, participavam nos nossos workshops de 90 minutos, cujas inscrições eram realizadas através do Oeiras Educa. Este ano fizeram o contacto com os alunos à distância e promoveram um Concurso que foi um sucesso – os alunos do 1º ciclo construíram robots nas férias do Natal e tiveram o apoio dos pais.
Quais as principais iniciativas levadas a cabo no Clube?
No CCVnE – S.P.A.C.E. temos uma equipa interdisciplinar, que envolve professores dos quatro departamentos do agrupamento Ciências Exatas, Expressões, Ciências Sociais e Línguas e Literaturas.
No primeiro período realizamos pela segunda vez o workshop “A viagem de Fernão de Magalhães de há 500 anos com a ajuda da tecnologia de hoje”, atividade de eletrónica considerando princípios da Física e Geografia associados à viagem de Circum-Navegação de Fernão de Magalhães em que participaram todos os alunos do 7º ano de escolaridade.
Os alunos do Clube participam em vários concursos internacionais da ESA – AstroPi, Cansat, Moon Chalenge e também do CERN – Beamline for Schools (BL4S), tendo o ano passado obtido uma posição na short list do BL4S.
Este ano estão a participar no projeto “Space Messenger” da artista Agnes Chavez que envolve alunos do 9º e 12 º anos da nossa escola e de uma escola no Novo México, nos Estados Unidos. Este projeto todo em inglês tem sido uma mais valia na formação dos nossos alunos, pois além da componente científica tem a vantagem de ser um grande desenvolvimento nas competências linguísticas.
Estamos também a participar no Carbon Tree, um projeto com origem no primeiro Fórum Internacional de Alterações Climáticas que decorreu em Helsínquia em agosto de 2019 e no qual pude participar. Este projeto foi apoiado pelo Projeto Ciência Mais Cidadã do IGC, ITQB e patrocinado pela Câmara Municipal de Oeiras. Durante o primeiro período, 20 alunos do ensino secundário do CCVnE fizeram formação em Arduíno, sensores e alterações climáticas, construíram estações de monitorização da qualidade do ar com materiais de baixo custo e propuseram-se realizar um estudo em equipa. Neste projeto tivemos o apoio técnico da empresa InovLabs.
Estes dois projetos têm sido promotores de aprendizagens reais, o contacto com investigadores é essencial para perceberem como se faz ciência a nível local e a nível internacional e o desenvolvimento do espírito critico é certamente uma mais valia para a sua vida futura.
Também temos alunos a participar num concurso sobre o Espaço – European Space Design Competition que vai decorrer online nos dias 10 e 11 de abril e os alunos são integrados em equipas internacionais, juntamente com franceses, alemães e espanhóis.
Que balanço faz da sua experiência no Clube de Ciência?
Tem sido uma aprendizagem bilateral. Aprende-se muito com os alunos! Eles são a alma do Clube e fazem-me querer aprender mais e mais.