A Escola Superior Náutica Infante D. Henrique (ENIDH) está em Oeiras há 48 anos, onde disponibiliza licenciaturas, mestrados e cursos técnicos superiores profissionais orientados para o ensino náutico. Luís Filipe Baptista, presidente da ENIDH, dá a conhecer as valências da instituição e as ambições para o futuro.
A ENIDH existe há quase um século e destaca-se por ser a única escola superior do País dedicada ao ensino náutico. Funcionou durante muitos anos na Rua do Arsenal, junto à Ribeira das Naus, em Lisboa, mas em 1972 transitou para Oeiras onde tem o seu campus instalado em Paço de Arcos. Luís Filipe Baptista, presidente da ENIDH, fala nas diferentes valências da escola que se destaca por ter uma das mais elevadas taxas de empregabilidade do País. Mas também nas ambições para o futuro que perspetiva venham a ser potenciadas no seguimento de um memorando de entendimento que se prepara para assinar com o Município de Oeiras.
Quais são as principais valências da ENIDH?
A Escola Superior Náutica Infante D. Henrique é a única instituição portuguesa de ensino superior náutico existente em Portugal. Podemos dizer que é a herdeira da antiga Escola de Sagres do Infante D. Henrique.
Tem cerca de 780 alunos, distribuídos por vários cursos: licenciaturas, mestrados e cursos técnicos superiores profissionais. Temos os cursos tradicionais de formação de oficiais para a marinha mercante: pilotagem, engenharia de máquinas marítimas e engenharia eletrotécnica marítima.
Depois, temos os cursos de gestão dirigidos aos transportes e aos portos – gestão de transportes e logística, e gestão portuária -, os mestrados em pilotagem e engenharia de máquinas marítimas. Mais recentemente, foram criados quatro cursos técnicos superiores profissionais: manutenção mecânica naval, eletrónica e automação naval, redes e sistemas informáticos e climatização e refrigeração. São cursos superiores curtos – de dois anos – que também tiveram uma grande aceitação: temos mais de 150 alunos inscritos nestes cursos.
A taxa de desemprego dos nossos diplomados anda abaixo dos 3%. Estamos no topo, nas cinco, seis primeiras instituições públicas de ensino superior nacionais com maior nível de empregabilidade
Temos uma residência de alojamento para cerca de 120 estudantes, um campus enorme com pavilhão, piscina e uma área excelente para os alunos poderem desenvolver as suas atividades de estudo e lazer.
É uma escola que tem uma grande empregabilidade: a taxa de desemprego dos nossos diplomados anda abaixo dos 3%. Estamos no topo, nas cinco, seis primeiras instituições públicas de ensino superior nacionais com maior nível de empregabilidade.
Este será, portanto, um dos principais fatores diferenciadores e atrativos da ENIDH…
Nós temos cursos únicos a nível nacional. São ofertas que não existem em mais nenhuma instituição de ensino superior em Portugal. O curso de pilotagem é único, os cursos em engenharia de máquinas marítimas e engenharia eletrotécnica marítima também, e embora haja muitos cursos superiores de gestão, os nossos são dirigidos aos transportes e aos portos sendo também ofertas únicas no panorama nacional. Temos sempre uma grande procura de candidatos para estes cursos, que ficam totalmente cheios todos os anos.
Qual é o perfil dos alunos da ENIDH?
Tradicionalmente, são alunos que têm familiares e amigos com alguma tradição, conhecimento ou passado na atividade marítima – nomeadamente, oficiais da marinha mercante ou trabalhadores da área portuária – que por sua influência nos procuram. Mas também temos outros alunos que não conheciam a escola e que, através das redes sociais, da feira Futurália, ou através de pesquisa no nosso site ou de outras formas de divulgação em que apostamos, ficaram a conhecer a Escola e interessaram-se pelos nossos cursos.
Quem se forma na ENIDH está preparado para fazer o quê?
Os nossos alunos dos cursos marítimos saem com todas as certificações necessárias para o exercício da sua atividade profissional nos navios da marinha mercante nacional e internacional. Somos avaliados a nível nacional pela agência de avaliação e de acreditação do ensino superior (A3ES), que certifica a qualidade dos nossos cursos e dos nossos graus académicos. Para além disso, temos a certificação da agência europeia de segurança marítima (EMSA) que verifica se os nossos cursos estão em conformidade com as diretivas da organização marítima internacional sobre a formação dos marítimos. Até agora temos tido sempre uma aprovação total por parte dessas entidades.
Portanto, o estudante que acabe o curso de pilotagem ou de engenharia e que queira ingressar na atividade marítima, obtém os seus certificados na direção geral dos recursos marítimos (DGRM), e fica habilitado a embarcar em qualquer navio da marinha mercante nacional ou estrangeira. Claro que devido aos normativos internacionais, o diplomado tem de fazer primeiro um estágio de um ano a bordo de navios mercantes. Só após a conclusão desse estágio, é que pode passar a exercer a função de oficial da marinha mercante. Mas passado esse período de estágio, não tem qualquer dificuldade em fazer carreira na marinha mercante.
Para além da componente de ensino, também fazem investigação. O que estão a fazer nesse âmbito?
Temos atividades de investigação que procuramos dinamizar e aumentar. Temos feito diversos trabalhos de investigação sobre manobra de navios em simulador, que é o único que existe em Portugal. São estudos, normalmente, de análise das manobras de navios em portos, estuários, rios e canais. Ou seja, manobras realizadas em situações complexas de operação em terminais portuários. Em geral, simulam-se condições adversas de correntes, marés, nevoeiro, mau tempo. São tudo situações que são simuladas para verificar se os navios conseguem manobrar em segurança neste tipo de infraestruturas portuárias.
Para além disso, temos outras atividades de investigação. Estivemos recentemente a participar com a Universidade de Gdynia, na Polónia, num projeto sobre análise de instalações elétricas de navios.
Também temos outros projetos relacionados com a aquisição de simuladores marítimos ao abrigo do programa EEA Grants, promovido pela Noruega, Islândia, Liechtenstein. Neste momento, temos em execução um projeto de dois milhões de euros para a aquisição de simuladores marítimos que implica, também, a realização de atividades de cooperação com duas instituições norueguesas de ensino superior. Estamos a desenvolver trabalhos com estas universidades, para que os nossos professores e estudantes possam adquirir melhores competências e desenvolvam trabalhos de pesquisa relevantes na área marítima.
O Concelho de Oeiras tem valências ótimas e temos uma excelente relação com a Câmara. Felizmente, estamos a aprofundar essas relações e esperamos em breve assinar um memorando de entendimento com a Câmara que vai ser o primeiro passo para estabelecer protocolos específicos sobre atividades concretas de cooperação
Temos ainda um projeto, que já está aprovado, relacionado com a automatização dos portos e um outro projeto EEA Grants submetido recentemente, que tem a ver com a possibilidade de estudantes de mestrado em engenharia de máquinas marítimas poderem realizar atividades de investigação numa das instituições norueguesas que são nossas parceiras.
Quais são as vantagens para a ENIDH de estar aqui em Oeiras?
A localização é fantástica. Temos uma rede de transportes de boa qualidade, a localização junto aqui ao mar é magnífica. Depois, não estamos no centro de Lisboa. Portanto, estamos numa zona calma em que as pessoas podem estudar e trabalhar em excelentes condições.
O Concelho de Oeiras tem valências ótimas e temos uma excelente relação com a Câmara. Felizmente, estamos a aprofundar essas relações e esperamos em breve assinar um memorando de entendimento com a Câmara que vai ser o primeiro passo para estabelecer protocolos específicos sobre atividades concretas de cooperação. Este será um protocolo genérico, mas que estabelece os moldes em que vai ser desenvolvida a futura cooperação, que queremos que seja bastante aprofundada, com o Município de Oeiras. Há um grande interesse do Município em estreitar relações com a escola e nós também partilhamos esse objetivo. Portanto, penso que estão reunidas as condições para finalmente termos uma relação bastante frutuosa.
O que é de esperar que resulte deste memorando de entendimento?
Fundamentalmente, existe a possibilidade de a Câmara fazer uma série de investimentos na requalificação de algumas instalações escolares. Nomeadamente, nas que têm a possibilidade de realizar atividades lúdicas, como é o caso da piscina e do pavilhão e obviamente, a escola estará disponível para depois disponibilizar em condições a definir à comunidade envolvente do Concelho.
Existe a possibilidade de a Câmara fazer uma série de investimentos na requalificação de algumas instalações escolares […] e obviamente, a escola estará disponível para depois as disponibilizar em condições a definir à comunidade envolvente do Concelho
Penso que isto já será bastante importante, porque tem duas finalidades muito importantes: primeiro, requalificar instalações que precisam de ser melhoradas, visto que a escola já ter 48 anos; e por outro lado, trazer mais público à escola que, muitas vezes, apesar de residir em áreas relativamente perto da instituição, não tem um grande conhecimento do que nós fazemos aqui.
A ENIDH tem desenvolvido parcerias/sinergias com outras instituições de Oeiras?
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) é o exemplo de um parceiro com que nós colaboramos estreitamente, até porque tem navios, e isso é uma coisa que nos interessa. Portanto, temos estado a estreitar relações de modo a que os nossos jovens, quando terminem os cursos, possam fazer estágios a bordo dos navios do IPMA. Também temos interesse em colaborar com outras instituições superiores sediadas no Concelho, nomeadamente a Universidade Atlântica e o Instituto Superior Técnico, instalado no Taguspark. Também já fizemos contactos no passado com a Faculdade de Motricidade Humana, mas que precisam de ser aprofundados. Portanto, existe muito potencial para crescer neste capítulo.
Daqui a dez anos, o que gostaria de ver de diferente aqui na ENIDH?
A escola tem um grande potencial de crescimento porque tem excelentes instalações que pode rentabilizar mais. Tem todas as condições para crescer e aumentar as suas ofertas formativas de modo a tornar-se uma escola de referência na área marítimo-portuária. Gostaria que daqui a uns anos a escola tivesse mais ofertas formativas, nomeadamente, na área das tecnologias aplicadas à economia do mar como por exemplo a digitalização no shipping e informatização aplicada aos portos. São áreas que hoje em dia estão em grande desenvolvimento: já se fala muito de navios autónomos, na automatização dos navios, no desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas aos portos. Tudo isto são áreas que nós podemos e devemos desenvolver de modo a assumirmos a liderança no desenvolvimento da área das ciências e tecnologias do mar.
Também seria interessante atrair para o nosso campus laboratórios de investigação na área marítima – dos portos e dos oceanos – para criar um hub de desenvolvimento, de ciência e de inovação e tecnologia na área das ciências do mar. Penso que isso seria fantástico e iria potenciar e dar uma enorme visibilidade e prestígio à nossa instituição.