Margarida Matos é o Rosto da Ciência que lidera a Task Force de Cientistas Comportamentais. A Task Force é uma equipa multidisciplinar voluntária, que põe as Ciências Comportamentais ao serviço das políticas públicas, para melhorar a gestão da pandemia.
A Task Force de Cientistas Comportamentais é uma iniciativa do Ministério da Saúde, do Gabinete do Primeiro-ministro e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. O projeto foi criado com o objetivo de disponibilizar o melhor conhecimento sobre as Ciências Comportamentais ao poder executivo, num momento em que se procura alcançar a melhor gestão da pandemia.
A equipa, composta por cinco psicólogos, um antropólogo e um médico, foi nomeada em março e tem atuado em diversas frentes, desde então, para ajudar o Gabinete do Primeiro-ministro a tomar as melhores medidas de proteção de saúde.
Conheça melhor a Task Force de Cientistas Comportamentais através das palavras de Margarida Gaspar de Matos, o “Rosto da Ciência” da Faculdade de Motricidade Humana, em Oeiras, que ambiciona pôr as Ciências Comportamentais ao dispor do País e da gestão da pandemia.
Quando e em que contexto surgiu a ideia de criar a Task Force de Cientistas Comportamentais?
Já há anos que é evidente a relevância das Ciências do Comportamento nas Políticas Públicas. A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) iniciou um grupo de trabalho, a que pertenci, que foi pioneiro nessa reflexão e nessa prática de diálogo entre a Ciência e as Políticas Públicas em Portugal.
A Task Force de Cientistas Comportamentais é uma iniciativa do Ministério da Saúde, do Gabinete do Primeiro-ministro (GPM) e da OPP.
A urgência de encontrar uma melhor gestão da pandemia, aliada ao facto de se verificarem colaborações entre Ciências Comportamentais e Políticas Públicas noutros países, desencadeou a possibilidade de propor o projeto para Portugal. Fomos nomeados em março e temos mandato até ao final do ano.
Quais são os propósitos e mais-valias da existência da Task Force de Cientistas Comportamentais?
A Task Force faz assessoria ao GPM com base nas Ciências Comportamentais. Não tem uma missão deliberativa, nem executiva. A ideia-base é pôr à disposição das Políticas Públicas aquilo que as Ciências Comportamentais demonstram, neste caso, para melhorar a gestão da pandemia.
Em primeiro lugar, identificamos, acompanhamos e gerimos os comportamentos individuais e coletivos de risco e de proteção face à pandemia. Fazemos recomendações de modo a ajudar os cidadãos a tomarem decisões que melhor promovam a sua saúde e a dos outros.
A par disto, identificamos e gerimos contextos de vida (casa, emprego, escolas, rua, eventos, restauração) para que sejam mais “amigáveis”, procurando facilitar as decisões de proteção da saúde.
Depois, procuramos otimizar o modo como as mensagens são comunicadas à população, de forma a maximizar a sua clareza, simplicidade, amigabilidade e agradabilidade, para que se potencie a adesão dos cidadãos.
Fazemos, também, o estudo sistemático da literatura nacional e internacional. Deste estudo saem Factsheets e Policybriefs que abordam os vários temas relevantes, permitindo antecipar algumas questões e fazer recomendações. Tal como nas tarefas anteriores, há um estudo de compilação, observação e audição e, sempre que possível, o recurso à investigação empírica.
Por fim, identificamos boas práticas ao nível da gestão de comportamentos, contextos e comunicação em saúde.
Quais são as principais iniciativas que a Task Force de Cientistas Comportamentais está a desenvolver?
Somos cinco psicólogos, um antropólogo e um médico. A missão que aceitámos levar a cabo, com a minha coordenação, funciona em regime voluntário. Esta é uma das situações que num futuro Observatório de Ciências Comportamentais não será sustentável, pelo esforço que implica e pela dificuldade logística de alguns procedimentos básicos e consequente eficácia.
Temos quatro meses de existência nos quais tentamos atuar a duas velocidades. Uma delas, “em rapidez”, a tentar estabelecer sinergias com todos as agências e personalidades relevantes neste setor, de modo a reduzir ruído, desperdício e maximizar a eficácia.
Envolvemos as nossas próprias equipas, das nossas Faculdades, no apoio a esta missão. Semanalmente, elaboramos um documento para cada linha de trabalho, que remetemos para o GPM. O nosso objetivo é ter utilidade prática e imediata, para otimizar a gestão da pandemia.
Na outra velocidade, “a médio prazo”, procuramos estar atualizados sobre toda a investigação que está em curso e fazer breves sinopses dessas evidências científicas, para proporcionar, regularmente, ao GPM, o melhor que a Ciência atual tem para oferecer. Além do GPM, colaboramos também com diversos departamentos governamentais, Universidades, IPSS, meios de Comunicação Social, entre outros.
Quais são as expetativas criadas pelos cidadãos quanto à Task Force de Cientistas Comportamentais?
O nosso trabalho é o que costumo chamar de “um imenso trabalho invisível”, porque muito do que fazemos não é comunicado diretamente à sociedade, mas através de decisões do GPM.
Penso que nos próximos anos, como já acontece noutros países, uma organização baseada nas Ciências Comportamentais será privilegiada pelas Políticas Públicas.
Não só para gestão de Pandemias, mas noutras situações igualmente importantes, como na Educação, na Saúde ou no Trabalho, para dar alguns exemplos. Nesse dia, uma estrutura como esta terá, sem dúvida, mais visibilidade.
Que balanço faz do trabalho da Task Force de Cientistas Comportamentais, desde a sua criação, e como perspetiva o seu futuro?
A cinco meses do final do mandato, temos tudo organizado para prosseguir. Tem sido um desafio imenso, daqueles para os quais nos preparámos em toda uma vida de estudo e investigação e o País necessita de todos nós.
Nem tivemos tempo para “arrumar a casa”, uma vez que a emergência sanitária pediu uma resposta célere, mas temos vindo a concretizá-lo da melhor forma que sabemos e com todo o empenho.