À conversa com o Oeiras Valley, o investigador Pedro Simas falou sobre o presente e o futuro da ciência no município.
Em entrevista, falou sobre o futuro Católica Biomedical Research (CBR) e do “apoio que a Câmara Municipal de Oeiras e os munícipes estão a dar” a este e a outros projetos enquadrados na Estratégia Oeiras e Ciência e Tecnologia (EOCT) para 2020-2025.
No decorrer da conversa, Pedro Simas falou também de projetos futuros, como o campus “One Health”, convidando-nos a imaginar aquilo que será também o futuro do município: “Acho que Oeiras vai ter enorme sucesso, que aquilo que está a fazer hoje nunca vai parar. Fá-lo a pensar no município, a pensar nas instituições e não em indivíduos e em egos.”
Leia a entrevista na íntegra e conheça o trabalho de Pedro Simas, investigador da Universidade Católica Portuguesa.
Comecemos por falar deste espaço onde nos encontramos. O que vai nascer aqui?
Um projeto fantástico! O novo instituto de investigação associado à Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa, o Católica Biomedical Research (CBR). É um instituto dedicado à investigação fundamental, ou seja, ao estudo e conhecimento básico sobre os processos biológicos, para que se possa desenvolver, por exemplo, um conhecimento das doenças e dos possíveis tratamentos. É o ponto de partida para descobertas com potencial de transformar a saúde e um viver saudável e em equilíbrio com a natureza.
Esta não é, no entanto, a primeira parceria do município com a comunidade científica. Que outros projetos estão a ser desenvolvidos?
O Município de Oeiras e o projeto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Oeiras são únicos no país. Absolutamente únicos! Esta distinção deve-se à liderança visionária do seu presidente, Isaltino Morais, que há muitos anos teve a oportunidade de conhecer e acolher em Oeiras três eminentes cientistas: o Professor António Xavier, o Professor Manuel Carrondo e o Professor António Coutinho. Tiveram um papel crucial na estreita cooperação entre o município e iniciativas científicas e um enorme impacto na ciência em Portugal.
O Presidente vislumbrou o valor acrescentado do ensino, da educação e da inovação, e em vez de transformar Oeiras num simples município dormitório da cidade de Lisboa, tornou-o no lugar fantástico que se vê hoje. Atualmente, temos o Instituto Gulbenkian Ciência (IGC) e um grande campus científico na Estação Agronómica. Este campus inclui o INIAV, um Laboratório de Estado que desenvolve investigação nas áreas agronómica e veterinária; a Universidade Nova, através do Instituto de Biotecnologia e Química Fina (ITQB); e o Instituto de Biologia Química (iBET), que foi recentemente expandido sob a liderança da Professora Paula Alves.
Temos ainda um grande parque tecnológico no Taguspark. Portanto, já existe uma sólida presença científica em Oeiras. Por comparação com os outros Institutos, o CBR está mais direcionado para a investigação médica, algo que ainda não existia no município de Oeiras.
Este novo projeto é por isso uma continuação de todo esse investimento que dura há mais de 20 anos, no município de Oeiras.
E quanto a projetos futuros?
Estamos no início, temos o futuro todo pela frente, e começamos numa casa que ainda não é a nossa, é a casa do Instituto Gulbenkian de Ciência. Ao longo dos últimos 30 anos, o IGC tornou-se num instituto reconhecido mundialmente, fez um enorme investimento em cientistas e no desenvolvimento de metodologias de ponta e desempenhou um papel muito importante na sociedade e na ciência em Portugal. O IGC também tem tido um enorme impacto no nascimento de outros grandes institutos de ciência portugueses, através da incubação nas suas instalações. A Fundação Champalimaud começou aqui; o CEDOC, um Instituto de Investigação Biomédica associado à Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa também foi aqui incubado, e agora é a vez do CBR.
O apoio que temos da Fundação Calouste Gulbenkian, do Instituto Gulbenkian de Ciência e do Município de Oeiras são fundamentais para o sucesso do CBR. Permite-nos crescer, planear e executar os próximos passos já rodeados de uma massa crítica fundamental, e de ter acesso imediato às tecnologias que nos permitem fazer ciência de ponta. Temos atualmente 8 investigadores principais e um coletivo de 30 cientistas.
No futuro, para além de sedimentar a nossa identidade, vamos construir o nosso próprio espaço, o nosso Instituto, e planeamos fazê-lo num ambiente que maximize as oportunidades de sucesso da nossa investigação. Achamos que isso é possível através da criação de um campus com vários institutos e universidades, com um ambiente que promova a excelência científica através da colaboração e interdisciplinaridade, a partilha de recursos, a promoção da inovação e transferência de conhecimentos, o acesso a financiamento competitivos e recursos, o desenvolvimento de parcerias a que nos permita atrair talentos.
Em termos práticos, juntamente com a Universidade Nova, o INIAV, o iBET, estamos a transformar o campus da Estação Agronómica no campus “One Health” (Uma Só Saúde). Os pilares fundamentais do conceito de “Uma Só Saúde” são três áreas inter-relacionadas que trabalham em conjunto para abordar questões de saúde em um contexto mais amplo e holístico: saúde humana, saúde animal, saúde ambiental. Isto implica uma estreita colaboração entre profissionais das áreas de saúde humana, veterinária, ambiental e outras disciplinas relacionadas, com o objetivo de prevenir e responder a ameaças à saúde que surgem das complexas interações entre seres humanos, animais e meio ambiente. Essa abordagem holística é fundamental para enfrentar desafios globais, como pandemias, a resistência antimicrobiana e as mudanças climáticas.
No campus “One Health”, conseguimos reunir as ciências veterinárias, agrárias, biomédicas e a química aplicada para garantir essa sinergia, além de atrair empresas de biotecnologia.
Queremos ainda abrir o campus aos munícipes de Oeiras, sensibilizando a comunidade para a importância da ciência e da educação, inspirando-a. Pretendemos criar uma Avenida da República que sirva como porta de entrada para a magnífica Estação Agronómica, que vai ter cafés, ginásio, creche e jardim de infância, bibliotecas; vai intergrar o município na ciência, e vice-versa, educando as pessoas acerca do nosso trabalho, especialmente num momento em que a desinformação é um desafio. Neste futuro, ambicionamos estreitar cada vez mais a relação com as pessoas e fazê-las entender o que fazemos e entendendo o que elas precisam.
Como vê o futuro deste verdadeiro campus tecnológico e científico que se está a criar em Oeiras?
Visualizo um futuro incrível para este campus, considerando o êxito gigantesco que já alcançou. Estamos a acrescentar mais competência a algo que já é altamente competente, como uma progressão geométrica, similar ao comportamento de vírus pandémicos. Essa é a magia da massa crítica.
A Universidade Católica tem a oportunidade de se unir a uma estrutura já estabelecida, facilita muito o nosso trabalho. Acredito que a ciência de excelência que queremos fazer, neste ambiente de interdisciplinaridade e de maximização de recursos, nos vai tornar competitivos na busca por financiamento, nacional e internacional, que é fundamental para a nossa sustentabilidade. Além disso, vislumbro um futuro brilhante nessa ligação proativa e genuína com os munícipes de Oeiras e, de facto, com todos. Esta iniciativa é aberta a todos, e isso é extremamente importante.
Que balanço faz da Estratégia Oeiras e Ciência e Tecnologia (EOCT) para 2020-2025?
Extremamente positivo, tendo em conta tudo o que testemunhei ao longo dos últimos 20 anos. Regressei de Cambridge, para Oeiras, para o IGC, há 23 anos, como investigador principal sob a liderança do Professor António Coutinho, e o crescimento e evolução na ciência portuguesa têm sido notáveis. Hoje, sinto uma profunda gratidão por poder regressar e iniciar este novo projeto. A estratégia e visão do Presidente Isaltino permitiu que a Universidade Católica estabelecesse o CBR em Oeiras e criasse as infraestruturas necessárias para iniciar este projeto.
No mundo em constante evolução, o investimento em ciência assume um papel fundamental no progresso e na sustentabilidade. É através do poder da investigação, da inovação e do conhecimento que vamos poder continuar a evoluir.