O Centro Colaborativo Gulbenkian integra o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e tem como missão estabelecer aquele organismo e a região de Oeiras como um pólo de ciência e inovação de relevo internacional. Luís Valente, diretor executivo deste centro, explica o que está a ser feito com vista a cumprir essa missão e aquelas que são as ambições para os próximos anos.
A Câmara de Oeiras e a Fundação Calouste Gulbenkian uniram-se para apoiar financeiramente investigadores de topo nas mais diversas áreas científicas que façam ou venham a fazer investigação no Município. O apoio será feito através do “Oeiras – ERC Frontier Research Incentive Awards”, cabendo ao Centro Colaborativo Gulbenkian do IGC coordenar desse prémio. A criação deste prémio acontece no mesmo ano em que o concurso das bolsas de consolidação do Conselho Europeu de Investigação – ERC premiou 11 investigadores portugueses, seis em território nacional e dos quais quatro são de instituições de Oeiras. Concretamente, três investigadores do IGC e um do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Em entrevista ao Oeiras Valley, Luís Valente, diretor executivo deste centro, fala na importância da atribuição desse prémio, dos restantes projetos em que o Centro Colaborativo está envolvido e também das principais metas que pretende atingir. Transformar Portugal e Oeiras numa plataforma que receba importantes eventos científicos e de formação avançada é uma das principais.
O Centro Colaborativo Gulbenkian nasceu há pouco tempo. Com que objetivo foi criado e qual o papel que pretendem que desempenhe?
O Centro Colaborativo nasce da necessidade de tornar a ciência mais colaborativa, mais interdisciplinar e mais acessível. Sabemos que os desafios científicos mais importantes que temos pela frente, seja o das alterações climáticas, da perda de biodiversidade, das doenças emergentes ou da resistência aos antibióticos, exigem de nós respostas robustas que não vão ser encontradas por cientistas isolados.
Ou seja, problemas complexos exigem respostas que necessitam da participação e colaboração entre peritos em muitas áreas, desde a Biologia à Física e às Ciências Sociais e com a participação de cientistas, empresas e de outros membros da sociedade.
Por outro lado, existe uma diferença muito grande no acesso ao conhecimento científico que leva a falta de representatividade geográfica ou mesmo de certas comunidades nacionais na produção do conhecimento científico, e nós pretendemos contribuir para diminuir essas assimetrias.
Que vias pretendem seguir ou explorar no sentido de cumprir os objetivos traçados?
O Centro Colaborativo tem criado programas que visam cumprir precisamente esses objetivos, como o programa de sabáticas, através do qual já recebemos no Instituto Gulbenkian de Ciência alguns dos mais reputados cientistas no mundo para passarem temporadas a colaborar com investigadores em Portugal, ou continuar o Programa de Bolsas António Coutinho, que pretende aumentar a diversidade na comunidade científica e capacitar cidadãos ou descendentes de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa para o desenvolvimento de investigação científica.
Temos também organizado ou planeado alguns cursos e conferências internacionais, neste momento predominantemente em formato virtual por força da pandemia, mas pretendemos fazê-los presencialmente no futuro de forma a transformar Portugal e Oeiras numa plataforma que receba importantes eventos científicos e de formação avançada que coloquem cientistas de diferentes áreas na mesma rede.
Por outro lado, temos planos para estabelecer espaços de colaboração e co-criação entre cientistas e empresas, promovidos pela unidade de inovação InnOvalley, e também espaços onde as instituições locais possam desenvolver iniciativas colaborativas entre cientistas e outros membros da sociedade.
O Prémio “Oeiras – ERC Frontier Research Incentive Awards” recentemente protocolado entre a Câmara de Oeiras e a Fundação Gulbenkian envolve diretamente o Centro Colaborativo Gulbenkian. Qual é o vosso papel?
O Centro Colaborativo tem um papel de coordenação, enquanto a Câmara Municipal de Oeiras entra como financiadora da iniciativa. Aliás, penso ser importante realçar o que tem sido uma ação extraordinária da Câmara no apoio às instituições científicas que estão estabelecidas no seu território, e em particular no apoio que tem dado ao Centro Colaborativo. Neste caso, a Câmara Municipal de Oeiras entendeu a importância de apoiar os cientistas de topo que têm submetido candidaturas excelentes ao European Research Council, mas que têm ficado sem financiamento apenas por falta de verba por parte da entidade financiadora.
Neste protocolo que foi agora estabelecido o Centro fica responsável por coordenar a iniciativa, bem como por operacionalizar uma comissão de acompanhamento constituída por membros de diferentes instituições de Oeiras que garanta a transparência do programa e confirme que os fundos são gastos da melhor forma em atividades científicas.
Qual a importância que atribui à criação deste prémio?
Este prémio acaba por atingir múltiplos objetivos. Por um lado, sinaliza a todos os investigadores de Oeiras que há interesse e ações concretas que pretendem ajudar a manter no território alguns dos melhores cientistas, bem como permitir-lhes terem as condições para melhorarem os seus projetos de forma a ficarem ainda mais competitivos internacionalmente.
Por outro lado, vai ajudar a atrair mais talento para as instituições ao criar fontes alternativas de financiamento. O prémio irá também criar uma motivação adicional para os investigadores concorrerem ao European Research Council, e acreditamos que isso fará também aumentar o número de candidaturas financiadas.
Finalmente, este prémio servirá como exemplo para que outras autarquias, filantropos ou entidades a nível nacional adotem esta ideia ou ideias semelhantes para que mais cientistas sejam apoiados e consigamos melhorar a competitividade do sistema científico nacional.
Olhando para o futuro, quais metas que o Centro Colaborativo Gulbenkian gostaria de ver cumpridas daqui a três anos, por exemplo?
O Centro Colaborativo deverá estabelecer-se como uma plataforma que consiga atrair alguns dos melhores cientistas do mundo para desenvolver investigação colaborativa e interdisciplinar, bem como participarem na formação avançada de investigadores mais jovens. Estimamos que as atividades do centro irão permitir que, daqui a três a cinco anos, seja observável um aumento considerável no número de candidaturas de cientistas que pretendam vir para cá estabelecer os seus laboratórios ou assistir a cursos e conferências de topo que organizaremos de forma regular.
Esperamos também conseguir nessa altura atrair anualmente cerca de 10 investigadores de topo que passem cá as suas sabáticas, estabelecendo colaborações com os cientistas locais, participando na formação dos alunos de doutoramento e participando em atividades de divulgação de ciência. Para além disso, nessa altura deveremos ter contribuído para a formação científica de dezenas de investigadores dos PALOP ou seus descendentes, ligando-os em rede com os investigadores nacionais.
Ambicionamos também, nesse mesmo período de tempo, ajudar a proporcionar as condições necessárias ao estabelecimento de parcerias entre cientistas e empresas que possam levar ao desenvolvimento de novos produtos. Este é um projeto a longo prazo e que queremos em contínua construção: para além destas ideias e iniciativas, queremos continuar a ouvir a comunidade científica, as empresas e os cidadãos interessados para em conjunto pensarmos em novas formas e programas que nos ajudem a atrair bons cientistas, promover a colaboração entre peritos em diferentes áreas, bem como a idealizarmos novas formas de democratizar o acesso ao conhecimento científico.