Raquel Gomes é a coordenadora do Ciência + Cidadã, um programa que tem como objetivo empoderar os cidadãos através do conhecimento científico, para que o possam utilizar na construção de um mundo mais resiliente, saudável e sustentável.
O Ciência + Cidadã é um programa que promove uma cidadania ativa potenciada pela ciência. A iniciativa resulta de uma parceria entre o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), o Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB-NOVA) e o Município de Oeiras e enquadra-se na estratégia “Ciência Aberta a Oeiras”.
A ideia é ouvir as decisões informadas e refletidas dos cidadãos sobre temas de ciência-sociedade e dotá-los das ferramentas e da literacia científica necessárias para usarem a ciência e o processo científico na melhoria das suas comunidades.
Conheça melhor o Ciência + Cidadã através das palavras de Raquel Gomes, o “Rosto da Ciência” que coordena este programa e que ambiciona tornar a ciência uma parte ativa da vida de todos oeirenses.
Quando e em que contexto surgiu o conceito da Ciência + Cidadã?
O programa Ciência + Cidadã nasceu em 2020, com a primeira assembleia cidadã deliberativa de Oeiras. Surgiu de uma ambição partilhada pelos institutos de investigação de Oeiras, nomeadamente o IGC e o ITQB-NOVA, de tornar a ciência mais aberta à sociedade, procurando, dessa forma, democratizá-la como sendo de todos para todos.
E digo de todos porque, embora sejam os cientistas quem mais contribui para a geração do conhecimento científico, há cada vez mais cidadãos a participar na ciência. Alguns movidos pela curiosidade e pela necessidade de entender melhor o impacto da ciência no quotidiano, outros porque veem a ciência como uma ferramenta para a construção de um mundo mais resiliente, saudável e sustentável.
O programa Ciência + Cidadã, com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras, propõe ser uma ponte entre a ciência e a sociedade ao promover iniciativas nas quais o pensar, o falar e fazer ciência se tornam parte das nossas vidas.
Quais são os propósitos e mais-valias da existência do Ciência + Cidadã?
O programa Ciência + Cidadã faz parte da estratégia “Ciência Aberta a Oeiras”, uma estratégia inovadora, alargada e ambiciosa do município de Oeiras, que reúne institutos de investigação, universidades e empresas do concelho e que dá grande ênfase ao envolvimento ativo dos Oeirenses, ao investir na educação de ciência e na participação pública.
A principal missão do programa é aproximar, de uma forma participativa, a sociedade de Oeiras da ciência, promovendo o diálogo entre cidadãos, cientistas e representantes políticos, em temas na intersecção ciência-sociedade.
Queremos fomentar uma cidadania informada e ativa na qual os cidadãos descobrem e participam na ciência de Oeiras e contribuem para a proteção e preservação do património biológico e natural do município.
Abrir a ciência e o processo científico à sociedade é fundamental para tornar o acesso à ciência e ao conhecimento científico mais inclusivos. Por outro lado, estamos a empoderar cidadãos com literacia científica, o que os tornará menos suscetíveis aos fenómenos de desinformação e fake news, que têm repercussões alarmantes na nossa sociedade.
Quais são as principais iniciativas que o Programa Ciência + Cidadã está a desenvolver?
Temos, em particular, dois tipos de iniciativas. As assembleias cidadãs deliberativas, que fazem parte do movimento mundial de democracia deliberativa e que são um instrumento que adotámos para ouvir os cidadãos oeirenses em questões de ciência-sociedade.
Um grupo de cidadãos, selecionado de forma a espelhar a diversidade da população, discute e elabora propostas sobre um tema; as propostas são apresentadas aos decisores científicos e políticos, que dão o seu parecer e ajudam na sua implementação.
A primeira assembleia cidadã deliberativa de Oeiras decorreu nos dias 8 e 9 de fevereiro de 2020 e contou com a participação de 30 cidadãos. O evento foi muito positivo. Os participantes mostraram-se participativos e empenhados em encontrar soluções para os problemas expostos. A maioria voluntariou-se a participar na sua implementação.
Foi muito enriquecedor ouvir as perspetivas cidadãs e integrar as suas propostas em iniciativas já existentes, bem como repensar certas abordagens ao envolvimento do público em ciência. O programa pretende continuar a dar voz aos cidadãos através da realização periódica deste tipo de iniciativas.
Por forma a envolver os cidadãos a participar na ciência, promovemos também iniciativas de ciência cidadã, que colocam a ciência nas mãos dos cidadãos, dando-lhes uma visão mais holística sobre o processo científico e a geração de conhecimento.
O primeiro projeto de ciência cidadã do programa, intitulado “Árvore de Carbono”, desafia os cidadãos a investigar a qualidade do ar nas suas comunidades e a compreender o impacto que esta pode ter na saúde. Teve início em 2020, durante a pandemia, e envolveu inicialmente alunos da Escola Secundária Sebastião e Silva, que construíram as suas próprias estações de monitorização da qualidade do ar, portáteis, de baixo custo e acessíveis a qualquer cidadão.
Já este ano estes embaixadores do “Árvore de Carbono” apresentaram os seus resultados em conferências internacionais e irão partilhar a sua experiência com a comunidade Oeirense em outubro, no festival de ciência, FIC.A.
Quais são as expectativas dos cidadãos quanto ao Ciência + Cidadã?
O programa ainda está no início, mas a primeira assembleia cidadã tornou muito claro o grande valor que os cidadãos dão à comunicação e educação de ciência e ao envolvimento ativo do público nestes diálogos.
Os Oeirenses sentem que a ciência faz parte da sua cultura e identidade e que deve haver um maior investimento neste tipo de iniciativas que realmente dão voz àqueles que, muitas vezes, se sentem à margem do conhecimento científico. O Ciência + Cidadã está aqui para ajudar a criar as sinergias necessárias.
Que balanço faz do Programa Ciência + Cidadã, desde a sua criação, e como perspetiva o seu futuro?
O início do programa tem sido muito positivo, sobretudo devido ao interesse de continuidade demonstrado pelos cidadãos que, de uma forma ou de outra, já participaram nele.
A ciência tem que ser cada vez mais inclusiva, participativa e cidadã, pois só assim conseguiremos solucionar os problemas locais e globais relacionados com biodiversidade, alterações climáticas, sustentabilidade e pandemias, que são inerentes à sobrevivência humana. Só com o envolvimento de todos conseguiremos ultrapassar os desafios presentes e futuros e deixar um planeta habitável e saudável às gerações futuras