Conheça Maria João Lopes e Rita Fernandes, duas jovens talentosas que venceram o Grande Prémio da International Space Settlement Design Competition.
Em entrevista, partilham as suas experiências na Final International Space Settlement Design Competition, incluindo os maiores desafios, aprendizagens e a emoção de participar nesta competição de prestígio, que envolve jovens de todo o mundo no desenvolvimento de projetos para colónias espaciais.
Como tomou conhecimento da Final International Space Settlement Design Competition?
Maria Lopes: Tomei conhecimento da competição no 10º ano, a partir do Clube de Ciências S.P.A.C.E., da Escola Secundária Sebastião e Silva. A professora Cristina Pinho falou-nos da competição no clube e, apesar de nessa altura ainda não pertencer ao S.P.A.C.E., houve uma colega que se lembrou que eu poderia gostar e apresentou-me a ideia. Na altura pensei não me inscrever, por considerar que não tinha conhecimento suficiente ou experiência para participar.
Inscrevi-me quase por impulso, quando percebi que a competição não era sobre o conhecimento que eu já tinha, mas sim pelo conhecimento que iria adquirir e pelas pessoas que iria conhecer.
Desde a minha participação inicial, fui divulgando, chamando amigos e colegas para entrarem também neste evento, que moldou o meu crescimento como pessoa e cientista.
Rita Fernandes: Foi a partir do clube de ciências da minha escola que eu soube desta competição. A aluna coordenadora, a Maria João, que acabou por vir comigo para os Estados Unidos, já tinha participado em anos anteriores e explicou-me em que consistia a competição.
Quando percebi que a temática envolvia o espaço, fiquei logo entusiasmada. Acabámos por participar em grupo, com o clube de ciências da Escola Secundária Sebastião e Silva e foi um dia muito stressante, mas muito divertido.
O que nos pode dizer desta experiência?
Maria Lopes: Esta experiência, não só a final, mas o caminho todo até lá chegar, moldou a minha forma de olhar para a indústria da exploração espacial e suscitou-me uma curiosidade enorme, do que estará para vir nos próximos anos e décadas. Confesso que fiquei com vontade de participar em mais projetos deste tipo no futuro, e quem sabe, talvez um dia, passar do plano teórico e hipotético, para o plano prático.
A partir da competição ganhei amigos de outros países, que não tinha conhecido de outra forma. Tínhamos todos interesses e hobbies parecidos, riamos das mesmas piadas e todos partilhavam uma grande paixão pela física, o que acabou por nos unir. A amizade e sentido de união que ganhei com essas pessoas é quase inexplicável – até nos juntamos online para ver “Interstellar” depois de uma competição.
A competição em si tem três etapas, a portuguesa, a europeia e a final internacional. Em cada fase existem cerca de três equipas, cada uma estruturada como se fosse uma empresa, que por sua vez está dividida em departamentos.
Rita Fernandes: A competição está dividida em três fases. Na primeira fase, na competição nacional – Portugal Space Design Competition -, participei com o clube de ciências da minha escola, em que estivemos online com várias equipas do país durante um dia.
A segunda fase da competição, a europeia – European Space Design Competition -, da minha equipa inicial passámos só três raparigas e, nesta fase, tudo foi mais desafiante do que na primeira. Durou um fim de semana e foi também online, sendo que integrámos equipas com pessoas de vários países e trabalhámos sem parar durante quase 48 horas. A minha equipa acabou por ganhar a competição europeia e foi isso que me possibilitou ir à última fase, a fase internacional, nos Estados Unidos.
A International Space Settlement Design Competition decorreu no Kennedy Space Center (NASA), na Flórida, durante cerca de quatro dias e foi muito desafiante, mas muito enriquecedora. Competimos integrados na equipa europeia, que integrou uma grande equipa com delegações de outros países.
Em todas as fases, a estrutura da competição é bastante idêntica. O nosso trabalho é idealizar uma base espacial noutro planeta ou no meio do espaço, o que é um grande desafio! Ao início é-nos dado um briefing sobre o que temos que realizar, que consiste num documento com uma série de requisitos, divididos por cinco áreas: Estruturas, Operações, Automação, Humanos e Marketing. Cada participante escolhe uma área onde quer trabalhar e… mãos à obra!
Estive sempre em estruturas e aprendi muito, tanto pelos desafios que me eram dados nas competições, como com as pessoas com quem trabalhei. Nas várias fases fiz amigos que continuo a falar regularmente, tanto portugueses como pessoas de todo o mundo e tenho a agradecer por estas amizades incríveis a esta competição. No final, a nossa equipa venceu!
Que conselhos pode dar a outros jovens que queiram participar neste tipo de competições internacionais?
Maria Lopes: O conselho mais importante que tenho a dar é para não terem medo. Não terem medo de irem sozinhos, porque vão conhecer um conjunto de pessoas com as quais vão fazer amizades; não terem medo de não saberem coisas ou considerar que não as sabem, porque vão sair desta competição com toda uma nova panóplia de conhecimentos incríveis; e por fim, e mais importante, não ter medo de arriscarem! Arrisquem, eu prometo-vos que vale a pena.
Rita Fernandes: O melhor conselho que eu posso dar é não terem medo de competir e de arriscar. Vou ser sincera, quando entrei na competição nacional nunca pensei que iria chegar ao final da competição. Portanto, se acham que uma competição ou outro projeto é interessante, participem, nunca sabem onde podem chegar!
Acha que estudar no concelho de Oeiras contribuiu para a obtenção do Grande Prémio da Competição?
Maria Lopes: Estudar no concelho de Oeiras foi exatamente o que tornou possível a minha participação. Muitos dos meus colegas fora do concelho não tinham conhecimento da competição, conhecimento esse que tive a partir da professora Cristina Pinho. Estou muito grata pelo município nos ter ajudado a ir até ao Kennedy Space Center, na Flórida. Cerca de dois anos antes, em 2021, o município disponibilizou-se também para pagar as despesas em prol da final internacional desse ano, mas infelizmente eu e o meu colega, Mário Vilas, não conseguimos ir devido à COVID-19.
A Câmara Municipal de Oeiras ajuda muito o Clube de Ciências S.P.A.C.E., ao qual pertenci durante o meu Secundário. Todas as atividades e experiências que tivemos ajudaram na obtenção deste Grande Prémio, e do prémio individual por excelência na liderança “Dick Edward’s”, por isso, sinto que a participação do município foi fulcral para os eventos que se seguiram.
Rita Fernandes: Estudar em Oeiras, principalmente na minha escola – a Escola Secundária Sebastião e Silva, tem-me proporcionado a participação em competições e projetos que dificilmente teria acesso noutras escolas. Portanto, com toda a convicção, digo que estudar em Oeiras ajudou-me a obter este Grande Prémio da Competição.
Gostaria de fazer carreira ligada à ciência e inovação que se faz no município?
Maria Lopes: Desde sempre quis seguir ciência e investigação, nunca houve uma altura em que achei que queria fazer outra coisa. Neste momento, estou a estudar Física na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e pretendo continuar os meus estudos com o objetivo de ter uma forte carreira na área da Física Teórica e Cosmologia.
No entanto, sinto que se houvesse oportunidade de trabalhar na área da exploração espacial seria muito difícil, ou quase impossível, recusar.
Rita Fernandes: A carreira que gostava de seguir no futuro está ligada às ciências e às engenharias, gostava de ser uma Engenheira Aeroespacial. Tem sido o meu grande sonho e é o que me aproxima de competições como esta, que têm o espaço como objeto de estudo.
Sei que é um desafio difícil, mas como devem ter percebido desta entrevista, sou uma rapariga que gosta de desafios e de se ultrapassar, portanto estou a fazer tudo para entrar no curso mais difícil de entrar do país.